terça-feira, 16 de novembro de 2010

Os 4 segredos para se ganhar um campeonato

O resultado do campeonato me surpreendeu, tenho que admitir. Muito mais do que a virada heróica de Haikkonen sobre Hamilton em 2007. Não acreditava que Vettel poderia chegar lá. Depois da quebra na Coreia acreditava em Alonso, Webber, até Hamilton, mas não nele. O alemão era carta fora do meu baralho, mesmo depois de Interlagos. A lógica dizia isso. Mas Vettel correu contra todos, inclusive a lógica. E levou o caneco. Depois de alguns dias avaliando o que aconteceu, liguei uns pontos e descobri que a lógica não estava tão contra Vettel. São quatro pontos chave, que mostram o caminho da vitória:

O campeão é quem faz mais pontos - A afirmação é óbvia. Lógico que quando olhamos o tabelão de pontos hoje vemos Vettel com o maior número de pontos. Mas olhando para o famoso tabelão podemos notar algumas coisas interessantes, que certamente foram consideradas pela equipe Red Bull na hora de decidir sobre apoiar ou não um dos pilotos.

Webber venceu sua última corrida na Hungria, décima segunda corrida. Era sua quarta vitória no campeonato. Vettel fazia uma temporada inconstante, mas sempre que se envolvia em confusão, estava lutando por ultrapassagens, por vitória. Foi assim na Turquia, foi assim em Spa. Webber foi o retrato da constância, pontuou em 17 das 19 provas. Um estilo eficiente à lá Damon Hill. Porém, na hora da verdade, Webber não foi páreo para Alonso e Vettel. De Monza até o final, foram 6 provas - 3 vitórias de Alonso, 3 vitórias de Vettel. Vettel teria ganho as 4 últimas não fosse o motor estourado na Coréia. Essa tendência me deixa uma idéia do porque a Red Bull não mudou as posições em Interlagos. Talvez o papo de esportividade, "somos contra o jogo de equipe", fosse na verdade confiança de que Vettel poderia largar à frente de Alonso, mas Webber era pouco provável. A Red Bull não tinha confiança de que Webber seria rápido o suficiente, e portanto resolveu arriscar com os dois ao invés de acreditar no australiano.

A engenharia que faz a diferença - A Red Bull fez um carro excelente este ano. No lançamento do modelo, em fevereiro deste ano, Adrian Newey e sua patota talvez não tivessem idéia do que tinham feito. Um carro surpreendente que possibilitou um piloto mediano como Mark Webber lutar pelo título até a última prova. Um carro surpreendente que levou um jovem talento, imaturo, agressivo e inconstante, ao título mundial. Uma obra-prima que quase perde tudo porque o melhor piloto estava em outra equipe, e que evoluiu muito no final do campeonato. Com esse carro, Alonso teria encerrado o campeonato com 3 ou 4 provas de antecedência, sem grandes problemas.



A insensatez de um jovem - o jovem a que me refiro é a própria Equipe Red Bull. Equipe jovem que nasceu de um grupo que foca seus bilhões de investimentos em esportes notadamente radicais. Já imaginaram o campeão do mundo de xadrez patrocinado pela Red Bull? Não dá né?

Nesse contexto, Dietrich Mateschitz, dono dessa verdadeira mina de dinheiro, optou por ser... radical oras!! Como ele mesmo disse: "Tivemos mais sorte que bom senso". Também acho. Arriscaram demais, venderam uma imagem de mocinhos e como o final da história foi boa para eles, além do título levam também a simpatia do mundo inteiro. Já não acho que foram tão loucos assim pelo que escrevi acima - no fundo acho que a equipe usou esse papo de esportividade para esconder uma falta de confiança em Webber. Se foi um caso muito bem pensado ou se simplesmente apertaram o foda-se, nunca vamos saber. Mas arriscaram alto, e levaram o prêmio para casa com muitos juros.

Patriotismo - Galvão Bueno sempre acha que Barrichello va facilitar a ultrapassagem para Felipe Massa porque eles são brasileiros, e um deve ajudar o outro, afinal eles devem estar num torneio entre países e não sabemos disso. Talvez ele não esteja tão louco...

O ponto decisivo para o título de Vettel recai sobre uma óbvia campanha de apoio entre alemães. Alonso largou mal e perdeu a posição para Button na largada. Mas fincou o pé em uma quarta posição que não seria ameaçada e nem ele ia lutar por outras posições. Mas daí entra a primeira intervenção alemã!! Schumacher, alemão e mentor de Vettel, ainda na primeira volta, roda sozinho e causa o acidente que gerou o Safety Car. Uma ocorrência decisiva que mais tarde jogaria Alonso para trás de Petrov.

Dai Alonso conheceu a segunda intervenção alemã... com vocês, Hermann Tilke!!


Este alemão foi o responsável por construir uns dos piores circuitos que a Formula 1 já teve. Um paraíso por fora, um inferno por dentro. O desespero de Alonso tem uma certa justificativa. Ele fez tudo certo, largou à frente de Webber, pilotou sem erros, mas por um acaso (criado pelo outro alemão... o Schumy...) ficou preso no trenzinho das arábias e viu seu terceiro título escorrer pelos dedos sem que pudesse fazer qualquer coisa. Não há o que contestar no título de Vettel, mas há que se pensar em mudanças nos circuitos. É plenamente aceitável que um piloto passe a corrida inteira atrás de outro por não ser capaz de ultrapassá-lo. Mas é inaceitável que um piloto perca um título sem que tenha qualquer condição de lutar por ele, não por falta de carro, talento ou vontade. Simplesmente porque numa ferrovia, um vagão não tem como passar o outro.

Um comentário:

  1. Agora um comentário sincero, sem gozação mesmo, o Rafa me surpreende a cada dia com a qualidade dos textos que escreve!
    Deve ter detonado na redação da FUVEST, o que garantiu sua boa classificação na carreira, claramente superando suas deficiências nas ciências exatas!
    Avanti mine fuhrer!

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