Este aqui é o primeiro post a 4 mãos e 2,5 cabeças (a do CT vale uma e meia) do blog.
Mas eu pelo menos acho que é um post bem legal, que vai dar origem a uma série bem longa. Espero que vocês se divirtam tanto quanto nós nos divertimos fazendo esse material. A ideia surgiu para não deixar o blog parado na entressafra, e da nossa vontade de entender algumas coisas que vemos nos carros de fórmula.
Então, eu desenhei um bico de F3, com as medidas mais ou menos tiradas a olho. O dono da oficina disse que era um Dallara, mas como era só o bico e estava quebrado de um lado, não deu pra confiar. Mas era um F3, sem dúvida. Consultei as regras para saber das dimensões máximas, e desenhei o bico que está aí embaixo:
OK, não parece muito com um F3, mas tá dentro das regras FIA de 2010. O nariz do carro tá meio grande, é uma homenagem pro Fassina. E não afeta muita coisa, porque o nosso objetivo de estudo neste modelo são:
- Estudar a influência do endplate na asa (endplate é aquela aleta vertical que fica no fim do aerofólio) - queremos saber como ele interage com o pneu e qual o ganho de arrasto e downforce com e sem ele;
- Analisar as diferenças que são geradas com o pneu rodando ou não no CFD, também para downforce e arrasto;
Agora, explicando para os leitores e leitoras que são fiéis e não fizeram engenharia:
- Arrasto é a força que o vento faz e "empurra" o carro pra trás. Sabe aquela coisa que andar com vento contra é mais difícil? Pois é, em carro de corrida é muito pior.
-
Downforce é a forca que "empurra" o carro pra baixo. É a mesma força que faz o avião voar, só que em corrida é usada pra "grudar" o carro na pista. Só que com esta força vem o arrasto junto, não tem como escapar. O desafio é sempre conseguir o máxmo de
downforce com o mínimo de arrasto.
- CFD vem de Computational Fluid Dynamics. Basicamente é calcular em computador as forças que atuam sobre um corpo quando um fluido (no caso, o ar) passa por ele. Com isso, podemos calcular qual o downforce e o arrasto, sem precisar fabricar a peça e nem colocar no túnel de vento!! É o trabalho do CT, e pelos clientes que ele tem, garanto que o cara é fera!!
Vai uma ilustração pra explicar o que acabei de escrever:

Simples assim. Agora os não engenheiros vão saber o que estamos estudando. Mas agora a coisa começa a ficar feia a partir de agora. Porque vamos começar a entrar nas discussões de pressão estática e dinâmica, e se você quiser entender perguntes nos comentários, que o CT responde. Porque eu mesmo não sei o que está acontecendo!
Bom, desenhar foi a parte mais fácil. O difícil foi simular, coisa que ficou tudo nas costas do CT. Aí o desenho gerou as seguintes malhas:

Modelo com endplate

Modelo sem endplate e (o CT sabe o que esta malha verde está fazendo aí)
As análises estão sendo feitas a 70 m/s (252 km/h), que é uma velocidade razoável para a categoria.
O bom deste estudo é que é só por diversão, não precisa fazer relatório nem nada. Nem precisa chegar a resultado nenhum. Mas não deixamos nossos leitores, e vamos apresentar algumas coisas que espero que sejam legais. Se não servir pra muita coisa, pelo menos essas imagens servem pra dar uma colorida no blog, e parecer que fazemos um trabalho sério.
Aguardem, porque serão muitos capítulos! E quem tiver alguma sugestão de análise, manda aí nos comentários.