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segunda-feira, 14 de abril de 2014

História de Meca - Acontece nas melhores famílias

(e nas piores com maior frequência) São Paulo, oficina da Equipe Copersucar Fittipaldi, meados dos anos 70.

Jarbinha estava largando o serviço, já cansado, tinha refeito o bico do FD para a corrida da Alemanha, dali a 2 semanas. Emerson estava no Rio, numa reunião pedindo patrocínio, Wilson ajeitando as coisas na Inglaterra. Divila no túnel de vento do ITA, e Jô já tinha ido pra casa. Já era noite, mas antes de sair, Jarbinha percebeu que o Jorge estava saindo sorrateiramente da oficina, com algumas peças na mão. Estranhou o comportamento do colega. Foi atrás.

- Jorge, o que você tá fazendo?
- Relaxa, vou pintar umas peças.
- Mas porque não usa a cabine de pintura?
- Porque a carenagem tá secando, não dá pra usar.
- Então vai pintar onde?
- Aqui, ó. [e apontou para a parede ao lado da oficina]

Em seguida, Jorge encostou as peças na parede, puxou a linha pneumática, e mandou ver na pintura.

- Ô Jorge, assim vai pintar a parede também! Protege a parede!
- Precisa não. Isso aqui é tinta automotiva, sai em duas semanas...

Assim ficou a parede da oficina, naquela tarde fria de maio de 74:


E esta aqui é uma foto do prédio, 2 anos depois:

 

Nem precisa dizer que o Wilson ficou MUITO bravo com a peripécia. Mas é o tipo de coisa que acontece nas melhores famílias...

(Direitos Autorais das fotos pelo Revs Institute for Automotive Research)

domingo, 19 de agosto de 2012

História de Meca - Pikezão

Voltando do meu sumiço, mas tô cheio de história pra contar. Espero que consiga postar tudo antes de sumir de novo...

O homem tá fazendo aniversário, ganhou uma corrida da Nascar de presente do filho, então dá para contar uma historinha de meca sobre ele. Nessa história eu vou sair do padrão, vou dar nome aos personagens, porque somente eles poderiam ter feito isso.

Em 2009, fui assistir ao rally da Graciosa, que era etapa do IRC. Numa promoção bem legal, o parque de apoio ficava no autódromo de Curitiba, onde estava acontecendo também a etapa brasileira do WTCC. E numa dessas paradas em Pinhais, acabamos descolando credenciais para acompanhar a corrida de Farfus, Zanardi, Priaulx e cia.

Lá dentro do autódromo, encontrei o Lua. Para quem não sabe, Carlos Cintra Mauro, o Lua, é amigo de Nelson Piquet. Eles meio que foram juntos na aventura de tentar a carreira de piloto na Europa. Dono de uma inteligência impressionante, e uma visão de negócios estilo Bernie Ecclestone, o Lua foi fundamental para o sucesso do Piquet na Inglaterra. O Piquet andava rápido, o Lua limpava as malcriadezas que ele fazia fora da pista e costurava boas oportunidades pra eles.

Tudo isso pra dizer que o Lua é o cara quando o assunto é Nelson Piquet. E quando nos encontramos, eu sempre pergunto (e ele sempre solta) alguma história legal sobre a época.

Em 1978, o campeonato inglês de F3 estava apertado. O Nelson estava na pressão, disputando o campeonato com o Chico Serra e mais alguns, só que com orçamento apertado. Um só chassi, não podia bater nem entortar, não podia testar demais pra  não gastar motor e câmbio, uma pindaíba. Era a época de dormir em kombi, revisar motor pros outros pra conseguir as peças e depois revisar o dele, aquelas histórias que a gente conhece.

Aí, de repente, o Nelson deslanchou no campeonato. Começou a fazer bons resultados, constante no pódio, com inícios de corrida impressionantes. As primeiras voltas eram sempre passando os carros e construindo resultados. E ninguém sabia o segredo. Chegaram a desmontar o carro dele pra saber qual a mutreta, e não acharam nada.

Naquela época, a F3 inglesa, assim como hoje, era preliminar de vários eventos. Como a F2, a F5000, e até a F1. Como é hoje. E os domingos de corrida na Inglaterra são verdadeiros Race Days, corrida o dia todo, a pista não para. Preliminar e menorzinha, s F3 largava logo de manhã, sem direito a warm-up nem nada. Era o primeiro evento do dia e mal tinha volta de apresentação.

- Sim, Lua, mas o que largar no frio tem a ver com a virada do Piquet até ser campeão?

- É que no meio do ano, mais ou menos, o Nelson descobriu uma coisa. Ele acordava na kombi, tirava o aquecedor do carro-oficina e colocava no carro. Fazia um envelope de lona, o aquecedor dentro. Deixava lá, e ia pro briefing da corrida. Quando ia pra pista, o carro já estava no ponto; pneus quentes, óleo dos amortecedores quentes, o carro a ponto de bala (o motor todo mundo esquentava). Isso fazia uma diferença enorme nas primeiras voltas, porque os outros carros demoravam umas 4 voltas pra ficarem mais macios e virarem rápido!

- Poxa, só o Piquet mesmo pra pensar em aquecer o carro antes das corridas e ter uma vantagem dessas... Um gênio!

- Gênio!? Gênio nada! Era um folgado mesmo. Ele começou com essa história de esquentar o carro porque ele não aguentava sair da sala de briefing e entrar dentro do carro gelado. Começou como uma maneira dele não passar frio, depois é que ele viu que vinha tempo, o carro mais na mão e tudo mais. A partir daí é que ele viu que tinha vantagem e foram pesquisar esse negócio de esquentar peça, pneu, e o escambau antes das corridas.

Nelson foi, sem dúvida, um gênio dos jeitinhos pra ganhar tempo na sua época. Mas nem todos foram propositais. Alguns foram de preguiça mesmo!

sábado, 6 de agosto de 2011

História dos Meca (8)

Esta semana começa o Rally dos Sertões. E durante a preparação do rally você se lembra das dificuldades de participar de uma campanha de guerra como essa. É uma situação extremamente estressante para a equipe de apoio, dormindo cerca de 3 horas por dia, dormindo sempre sentado no carro, durante o deslocamento, torcendo para o cara que está dirigindo não estar dormindo também.

Faltam horas de sono, os prazos são apertados, deslocamentos enormes em estradas péssimas, e junto com isso os conflitos de saber onde está o carro de corrida, ferramenta que some, peça que quebra, pneu do carro de apoio que fura, tudo dando errado o tempo todo. O Sertões é assim, e tem que ser assim, uma prova duríssima para todos os envolvidos.

Então, colocar gente de mau humor, que cansa fácil, que quer sempre dar a útima palavra, ou que está lá só pra fazer o seu trabalho, não funciona. Tem que ter bom humor, e desempenhar tarefas que você nem sabia que existiam, ser polivalente.

O Capixaba é um cara assim. Trabalha 22 horas por dia, se preciso. Ele é o motorista de caminhão da equipe, e sempre com uma piada na ponta da língua. Sempre tem uma tirada boa para quebrar o gelo nos momentos mais tensos, e dar uma risada pra manter o ânimo quando as coisas estão bem. E consegue dar uma bronca usando o bom humor:

- Ô meu querido, você tá muito encostado. Tá parecendo rabo de bode!
- Rabo de quê, Capixaba?
- Rabo de bode, mermão!
- Mas porque rabo de bode?
- Porque rabo de bode não consegue abanar as moscas e nem cobrir o fiofó. No final o rabo do bode não serve pra porcaria nenhuma!

Ele é assim 100% do tempo, não dá pra ficar 2 minutos do lado dele sem dar uma boa risada. Mas na hora de agarrar e trabalhar, ele cai dentro do problema e invariavelmente ajuda e resolve.

Mas a história que eu quero contar é outra. Num desses rallies da vida, o chefe de equipe era um cara famoso, chegou até a participar da F1. O capixaba nessa prova, além de motorista, era o cozinheiro da equipe. E preparou um belo churrasco, o deslocamento era mínimo e dava tempo de passar num bom açougue pra comprar carne.

O chefe de equipe estava fazendo apoio de largada, longe do acampamento. Mas, pelo rádio, passou a ordem: "Capixaba, eu tô com vontade de comer linguiça. Você pode dar até picanha pro pessoal, mas deixa a linguiça pra mim".

Mas a linguiça já estava assando. Sobrou só um cordão, que ele guardou separado, afinal, chefe é chefe, as coisas já estão tensas, e desagradar o chefe não é uma boa. Capixaba é engraçado, mas bobo ele não é não. Tiraram sarro da preferência do chefe pela linguiça, mas tocaram a vida.

No final da tarde, todo mundo de bucho cheio, esperando o carro de corrida chegar para entrar no serviço. E novo rádio do chefe: "Capixaba, tô chegando, morrendo de fome. Não parei pra comer em lugar nenhum, tô indo direto praí. Sobrou um pouco pra mim?" "Claro, chefe, a sua tá separadinha, especial aqui. Tô colocando pra assar agora."

E colocou mesmo. Como todo mundo já estava de bucho cheio, não precisava se preocupar. A do chefe estava garantida, deixou assando e foi cuidar da limpeza da cozinha. Faltou combinar com o vira-lata da cidade. Enquanto limpava a pia, escutou um barulho na churrasqueira. Se virou, a tempo de ver o cordão de linguiça sumindo da grelha.

Não teve dúvida, saiu correndo acampamento afora atrás do ladrão. Alcançou, derrubou o cão, que não era pequeno, e se engalfinhou com ele. Quem viu a luta disse que pareciam dois animais brigando pelo último pedaço de carne da Terra. E no final, quando a poeira baixou, o homem ganhou.

Diante da surpresa de todo mundo, ele tirou a poeira da carne, lavou a linguiça, e colocou de volta pra assar. "Não tem nada, não, é só tirar esse gomo mordido aqui do meio, não vai dar nem pra perceber."

E foi na hora que a carne batizada ficou pronta, o chefe chegou. E foi direto no Capixaba:

- E aí, o cheiro tá bom. Cadê a linguiça?
- Tá aqui chefe, acabei de fatiar, tá até saindo fumacinha.
- Humm, mas isso aqui tá muito bom, realmente especial!
- Pois é chefe, é um temperinho que eu inventei.
- O que é?
- Ah, isso eu não posso falar, se te contar meu segredo você nunca mais me chama pra trabalhar na equipe!

E até hoje o chefe não sabe qual é o tempero que o colocaram na carne dele...

quinta-feira, 28 de julho de 2011

História dos Meca (7)

Essa é curtinha, uma sacanagem que eu fiz ontem, e que é bastante comum nas oficinas de competição.

Ontem eu estava na oficina, e precisava de uma extensão para usar uma furadeira. Um mecânico novato foi buscar pra mim. Quando ele voltou eu falei: "Valeu, cara, mas essa aqui não serve. É uma extensão 110 V e eu preciso de uma 220."

Meio resignado, o rapaz virou com a extensão e foi voltando para o almoxarifado. Eu fiquei com dó e falei "Peraí, é brincadeira!" Enquanto isso todos os outros mecas, que a esta altura já tinham parado de trabalhar pra dar risada, ficaram bravos comigo. Eles queriam ver o novato andar um monte até descobrir a besteira que estava fazendo.

Aí eu lembrei do desentupidor de fio. Vocês lembram da caixa de blanks pesada pra burro, que ficava debaixo do torno láááaa no Lamafe? Lembram quem foi o bixo que pedimos para ir falar com o Craudião e buscar o desentupidor de fio?

E o punção de borracha para materiais moles? A chave 19 para rosca esquerda? Tem tanta sacanagem nas oficinas que de cabeça eu não consigo nem lembrar. Graxa na maçaneta da porta do banheiro, enxer de água o sapato de segurança do cabra enquanto ele coloca o macacão no vestiário, são coisas que descontraem o ambiente, mas também deixam os meca mais espertos para o que acontece na oficina.

Quem aí lembra lembra (ou sabe) de mais sacanagem de oficina? Tem gente nova entrando na equipe e eu preciso renovar meu repertório...

domingo, 13 de março de 2011

Histórias dos Meca (6)

Mais um ganchinho, e da stock também. Houve um grave acidente no ECPA na pré temporada deste ano. Resultado, uma clavícula quebrada (tira do ombro do cinto mal ajustada?), e um carro praticamente destruído.

Ao que parece, se houve falha do freio, o piloto teria todas as chances de deixar o carro escorregar pela área de escape da pista de arrancada, e parar batendo na barreira de pneus. Mas os mecas contam que na área de escape, NO FINAL DA RETA, havia 2 fotógrafos/cinegrafistas. O piloto teve que desviar, e bateu no barranco, e voou.

Se isso é verdade, eu não sei. O que eles me disseram (mais de um meca me falou) é que não se deve nunca cumprimentar o pai desse piloto dando a mão. É que ele, propositadamente, vai no banheiro e não lava a mão. Só pra cumprimentar as pessoas depois, e rir sozinho da molecagem.

Que coisa feia... Ok, post meio inútil e nojento, mas só pra vocês verem que as sacanagens no esporte acontecem, e muito. Mais com uns que com outros, mas sempre acontecem.

Histórias dos Meca (5)

Bom, acabo ler a notícia que Robert Kubica vai ter que operar o cotovelo novamente, na sua maratona de recuperação. Que volte logo, e melhor que antes. Mas eu queria aproveitar o gancho das críticas por um piloto de F1 se arriscar em outras categorias, ou até outros esportes.

O problema é que não tem como parar os caras. Não tem jeito. Você pode colocá-los em um simulador 8 horas por dia, trancar os caras numa academia enquanto não estiverem nas pistas, e mesmo assim eles vão procurar emoções fora.

O problema é que a gente só sabe quando dá m... Como por exemplo, a corrida de bicicleta do Webber, a "partida de tênis" do Montoya, o rali do Kubica... E não é moda nova, não; Senna teve um rompimento parcial de tímpano em um tombo de jet ski, Pironi fazia suas estripulias na motonáutica, e James Hunt... era James Hunt.

Todos eles aprontam. Só que não sabemos. Por exemplo, existia na época um piloto brasileiro que era piloto 1B numa equipe italiana de F1. Isso foi na época de Stock Car Brasil com aqueles Vectras. E tinha um teste livre em Interlagos. Pois bem, certo piloto vestiu o macacão e o capacete do piloto titular do stock car, e se mandou pra pista. Deu poucas, voltas é verdade (uma meia dúzia, segundo o meca) mas mandaram parar imediatamente: com aquelas poucas voltas, ele já tinha batido em 2 segundos (!!!) o recorde do piloto titular do carro!!!

Pra não levantar suspeitas, chamaram esse piloto de volta aos boxes, baixaram as portas, e ficaram quietinhos. Tá certo, o piloto titular do stock não era tão bom assim, mas a versão oficial é que o motor estava "batizado". O piloto de F1 deu várias dicas sobre a pista, e principalmente sobre o carro, e pelo que o meca falou, melhoraram muito. Mas nunca o piloto titular conseguiu virar o mesmo tempo do outro.

Piloto de F1 é mesmo gente de outro planeta. Mas quando resolvem aprontar, são tão moleques quanto um garoto de 14 anos.

sábado, 7 de agosto de 2010

Histórias dos meca (4)

Já falei dos meca que sacaneiam pilotos malas, meca que tenta sacanaear piloto, hoje é meca que sacaneia playboy. Eles ainda sacaneiam, mas vou contar uma que eles faziam muito.

Então o filinho de papai metido a piloto chegava na oficina que mexia com carro de corrida: "Quero envenenar o meu carro."

"Perfeitamente, nós vamos colocar o comando que usamos no carro da Stock, mais o alívio das bronzinas, vai ganhar uns 60 cavalos. Mas se quiser podemos conseguir mais uns 40 cavalos pelo dobro do preço, vamos realinhar o coletor." (!?)

Feito, o carro passava o mês na oficina, afinal o motor tinha que ser refeito. Só que ficava um mês encostado na oficina. Em um dia o serviço estava feito. O serviço era trocar o velocímetro, e colocar uma ponteira de escape. Só. E cobravam uma revisão de motor completa.

O resultado? O playboy ia passear à noite feliz da vida. O barulho do motor era de envenenado, condizia com a potência instalada. O bicho ficava "bravo". (A braveza, o opcional adicional, nada mais era que uma desregulagem básica na altura do atuador de embreagem, pro carro dar tranco na troca de marchas). O cidadão saía gorgeando que antes a terceira cortava a 120, agora está cortando a 150...

Se o playboy fosse minimamente esperto, saberia que se não houve troca do raio do pneu, nem troca das engrenagens do câmbio/diferencial, o carro que corta a 6500 rpm continua cortando na mesma velocidade. Mas pensar não faz parte da mente desses caras... E os meca se aproveitam da ingenuidade desse povo.

Esta é do tempo que não existia lombada eletrônica, o caboclo não podia calibrar o velocímetro pela velocidade indicada. Isso os playboys conseguiam entender, e então os meca pararam de aplicar este golpe. Mas com a eletrônica, novos golpes mais simples ou mais sofisticados surgiram, e é incrível como os moleques continuam caindo...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Histórias dos meca (3)

Muito bem, as duas primeiras foram os meca aprontando para os pilotos. Hoje o piloto dá o troco.

Era uma vez um piloto multicampeão nas pistas, inclusive com participação na F1. Não precisava provar nada para ninguém. Mas resolveu ir se arriscar nas trilhas, fazendo algumas provas de cross country.

Então, na primeira vez que foi andar, foi numa fazenda no interior de São Paulo. Uma pista controlada, com cerca de 3 km, simulando uma especial de rally. A equipe oficial de fábrica foi acionada, montou o acampamento na beira da pista, preparou o carro.

O piloto chegou, andou de co-piloto junto com o piloto oficial da fábrica, pra aprender a pista. Depois, trocaram de posições, ele ajustou banco, cinto, volante, e se mandou para a pista. A idéia era andar 3 voltas, pra sentir o carro. Ele fez isso. Ouviu as dicas do piloto oficial. E foi pra mais 3 voltas sozinho. Voltou para o apoio. E já veio logo dizendo:

- Olha, eu não conheço muito essa coisa, mas tenho a impressão que se vocês amolecerem um pouco a traseira o carro melhora de saída de curva. É isso mesmo?

O piloto de fábrica consentiu, estava certo. Os meca abriram 3 cliques nos amortecedores traseiros. Pra vocês terem uma idéia, eu não consigo sentir a diferença de 5 ou 6 cliques. Pra mim é igual. É por isso que eu não sou piloto. Mas esse cara era. E ele foi pra pista, andou mais 3 ou 4 voltas. E voltou:

- Não veio tempo, porque eu experimentei coisas diferentes nas entradas de curva, tirei o pé nas retas, mas de saída de curva o carro está melhor. Só que dá pra melhorar ainda mais. Será que dá pra amolecer mais?

- Deixa com a gente! - Falou o meca chefe. E cochichou para os seus meca-cupinchas:

- Fechem os 3 cliques. Voltem o carro para o que estava na primeira volta. Vamos ver se o cara é bom mesmo...

Assim foi feito. O carro de volta ao original. Mas, antes de entrar na pista, o meca chefe foi para o piloto e disse: "abrimos mais 5 cliques. Agora são oito. Pega leve nas curvas até sentir o carro."

O piloto deu várias voltas, o dobro do normal. Quando voltou para o apoio, veio logo dizendo:

- Gente, eu não sei, eu não entendo. Andei, andei, procurando me encaixar no carro, mas não consegui melhorar. As curvas não vinham bem, não estava certo. Parece estranho, mas o carro está igualzinho à primeira vez que andei...
- Parem o teste. O cara é bom mesmo.

Ele acertou mesmo o "erro dos mecas", e a partir daquele dia virou outro piloto oficial da fábrica. E sempre que era necessário algum acerto no carro, era chamado. E resolveu muitas coisas que ninguém conseguia achar. Outra vez, a equipe tpassou uma semana tentando resolver um carro que não freava, até ele dar uma volta e voltar para o apoio praguejando:

- Ô, seus FDP, querem me matar? a válvula unidirecional do vácuo do freio tá invertida!

Ficamos um tempão discutindo pastilha, ganho do pedal, sangrando o sistema, e o cara em uma volta matou o problema. Sem vácuo, o booster não tinha como funcionar direito, aí o carro não freava mesmo. É difícil descobrir o problema, outros pilotos não conseguiram identificar o erro. Ele já tinha sofrido problema parecido na pista, por isso sabia o que era. Mesmo assim, precisou de apenas uma volta para isso.

Era um grande acertador, esse Alemão.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Histórias dos meca (2)

A maioria das equipes tem dois pilotos, um mais experiente, e o novato, rápido e inconsequente. Normalmente, quando você precisa de ajuste fino, você chama o cara experiente. Aí ele vai, acerta o carro, testa coisas novas, deixa tudo um brinco. Depois de acertado o carro, você joga na mão do novato. Ele vai fazer a durabilidade. O garoto vai lá e dá voltas e voltas nas intermináveis sessões de teste.

Um conhecido deste Blog, que já trabalhou com F1, contou uma coisa que ilustra exatamente isso: sempre que havia alguma novidade, o Alonso andava no carro. Depois de tudo pronto, o Nelsinho fazia as simulações de GP, pra ver se a peça nova aguentava o final de semana de corrida todo.

Mas isso tem razão de ser. O piloto experiente sabe onde acelerar, e como não forçar o carro. Dimensionar o carro pra este tipo de piloto não funciona, porque uma pancadinha na largada, uma pegada a mais na zebra, pode quebrar. Por isso o novato anda. Se a peça sobreviver a ele, então aguenta a tudo. E pro novato isso é bom. Ele tem disposição para andar, e com a quilometragem, ele vai aprendendo, vai conhecendo as reações, o que fazer e como.

Tem um problema nessa história. Piloto é uma raça infernal. Ele só quer saber de tempo. Não importa se é uma sessão de durabilidade, o cara quer virar tempo. Se ele for de carro na padaria contra o relógio, vai procurar tempo até subindo na calçada. E piloto novato é ainda pior. Todos os pilotos, todos, assim que abrem a viseira, falam: "quanto eu virei?", seguido de um "quanto os outros estão virando?"

Bom, dessa vez estávamos na terra. Carro novo, ninguém conhecia como o carro funcionava direito. Foi primeiro o piloto experiente da equipe, andou, acertou mola, amortecedor, mapa da injeção, transformou protótipo em um carro de corrida.

Aí entrou o novato, pra fazer a durabilidade. Piloto de rally esperto sempre leva um meca junto nas primeiras andadas. O cara que montou o carro tem que estar junto arriscando o pescoço, pra garantir que ele fez seu serviço direito. Andaram as primeiras voltas, voltaram, enquanto ajustavam os bancos, o meca me cochicha: "vai dar m. Esse aí é cupim de aço."

No pequeno trecho de pista que conseguíamos ver, a diferença era gritante. O experiente realmente contornava as curvas, chegava no salto na velocidade suficiente para pousar, e depois frear. Era tudo na sequência, o pouso seguido da freada, e depois a curva. E apesar de parecer que ele estava passeando, o tempo de volta era perto de 5 minutos e 46 segundos.

Já o novato, vinha todo quadrado, carro de lado, acelerando no pouso, tentando achar tempo onde não dava. Brigava com o carro o tempo todo, parecia que estava no limite mesmo. E o tempo? 5:50, 5:52...

O resultado era claro. Poucas voltas depois, um chamado no rádio. Bandeja de suspensão quebrada. Ótimo, sabíamos onde reforçar. trocamos a peça por uma nova, pra não perder o resto do dia de teste. Era questão de tempo para o novato quebrar uma nova peça.

Mas o meca resolveu o problema. Assim que o piloto parava no apoio, "qual o tempo?" o meca tirava uns 4 ou 5 segundos. "Cara, você tá voando! tá virando 5 e 42! Dá uma segurada aí!" "Não, vou andar dando tudo, pra forçar o carro, eu sempre ando forçando na durabilidade."

Só que a estratégia do meca estava certa. Os tempos de volta reais ficaram em 5:47, mais ou menos. O piloto novato deu uma tirada de pé, andou com mais critério, não procurou mais tempo onde não tinha, e o resultado foi que andamos até o pôr do sol naquele dia. Deu tudo certo, cumprimos a nossa meta de quilometragem, os meca não precisaram trocar mais peças, e o novato saiu de lá se achando um Ayrton Senna da terra...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Histórias dos meca (1)

Os mecânicos sempre aprontam alguma pra cima de pilotos. Eu já ouvi várias, já participei de algumas e já fiz umas poucas. Conforme eu for lembrando vou postando aqui. Nunca contando o nome dos santos, mas vocês vão saber pelo milagre.

A primeira eu participei. Aconteceu de eu estar numa equipe que tinha dois pilotos, um era gente boa demais, um cuca fresca, tudo estava bom pra ele. Dava uma volta com o carro, e na volta:

- E aí, o que achou do carro?
- É, tava legal.
- Mas a suspensão, tá muito dura?
- Não, tá legal.
- Mas tá saindo de frente?
- Tá, mas é normal. Tá legal assim.
- E o motor? A retomada melhorou?
- Hummm, tá bom, o carro tá todo bom.

Era difícil arrancar alguma coisa dele que pudesse melhorar o carro. Era um piloto das antigas. Pra ele, o piloto tinha que se adaptar ao carro. Pena que essa teoria caiu faz uns 40 anos...

Mas o segundo piloto, esse era o cara. 6 vezes campeão brasileiro, 4 sul americano, o cara era o bicho. Extremamente meticuloso na preparação do carro, e dizia-se, um grande acertador de carros. Mas na verdade o cara era um mala. Se metia onde não precisava, e sempre tratando os meca como se fossem seus escravos. Pegamos antipatia na hora, mas não dava pra escapar, o final de semana íamos andar com ele. Para o meu azar, eu era o responsável pelo carro dele. Ele tratava diretamente comigo, eu recebia as pauladas primeiro.

Colocamos esse pilotaço pra andar a primeira vez. Ele deu 4 voltas, parou, disse que estava horrível. Uma lista enorme de coisas pra mudar. Ficamos horas reajustando amortecedor, mudando posição de banco, volante, cortando e soldando pedal de freio, mudando a posiçãod o atuador hidráulico da embreagem, mas na manhã seguinte o carro estava pronto.

Ele chegou, olhou, sentou. Sorriu, meio desconfiado. Mas gostou. Foi pra pista, mais 4 voltas, voltou. Tava ruim, mas dava pra andar. Foi pra sessão de amaciamento do câmbio, 30 voltas. Terminou. Trocamos os pneus, aí sim, pra virar tempo. Mal desceu do carro, já veio me perguntando:

- Que libragem é essa?
- Estamos colocando 30 libras.
- Estão loucos, tá tudo errado. Põe 28.

Pôxa, muito errado. Mas foi um mecânico calibrar de novo. Frio, 28. Confirma? Confirma. E lá se foi o piloto. Foi e virou tempo, nada muito diferente da sessão de amaciamento, mas melhorou um pouco. Voltou, feliz da vida:

- Tá vendo? Vocês estão calibrando errado. O carro é completamente diferente agora. Muito mais previsível nas freadas, mais neutro, recebe melhor as pancadas, tá uma beleza. Sempre mantenham em 28, a não ser que eu mande mudar, ok?
- Ok. - Disse eu, meio resignado. Não mudava muito a coisa pra mim, o que interessa é que ele fosse rápido. Foi quando eu olhei para os meca. Nas costas do piloto, eles gargalhavam. Mas não era hora de perguntar porque, não dava.

A sessão de testes acabou, o superpiloto foi embora. Foi quando eu olhei a folha de setup. Nos campos de pressão dos pneus, estava:

Dianteiro direito: 32
Dianteiro esquerdo: 26
Traseiro direito: 24
Traseiro esquerdo: 28

O grande acertador de carros não percebeu que o carro estava completamente errado!! Os meca sacanearam o cidadão, e ele nem percebeu! O que aconteceu foi que no resto da corrida toda ele fazia os pedidos de acerto, nós fazíamos do jeito que queríamos, ele nem percebia e acabou abandonando a corrida sem nem ter idéia do quanto rimos dele a prova inteira.