quinta-feira, 20 de maio de 2010

Histórias dos meca (1)

Os mecânicos sempre aprontam alguma pra cima de pilotos. Eu já ouvi várias, já participei de algumas e já fiz umas poucas. Conforme eu for lembrando vou postando aqui. Nunca contando o nome dos santos, mas vocês vão saber pelo milagre.

A primeira eu participei. Aconteceu de eu estar numa equipe que tinha dois pilotos, um era gente boa demais, um cuca fresca, tudo estava bom pra ele. Dava uma volta com o carro, e na volta:

- E aí, o que achou do carro?
- É, tava legal.
- Mas a suspensão, tá muito dura?
- Não, tá legal.
- Mas tá saindo de frente?
- Tá, mas é normal. Tá legal assim.
- E o motor? A retomada melhorou?
- Hummm, tá bom, o carro tá todo bom.

Era difícil arrancar alguma coisa dele que pudesse melhorar o carro. Era um piloto das antigas. Pra ele, o piloto tinha que se adaptar ao carro. Pena que essa teoria caiu faz uns 40 anos...

Mas o segundo piloto, esse era o cara. 6 vezes campeão brasileiro, 4 sul americano, o cara era o bicho. Extremamente meticuloso na preparação do carro, e dizia-se, um grande acertador de carros. Mas na verdade o cara era um mala. Se metia onde não precisava, e sempre tratando os meca como se fossem seus escravos. Pegamos antipatia na hora, mas não dava pra escapar, o final de semana íamos andar com ele. Para o meu azar, eu era o responsável pelo carro dele. Ele tratava diretamente comigo, eu recebia as pauladas primeiro.

Colocamos esse pilotaço pra andar a primeira vez. Ele deu 4 voltas, parou, disse que estava horrível. Uma lista enorme de coisas pra mudar. Ficamos horas reajustando amortecedor, mudando posição de banco, volante, cortando e soldando pedal de freio, mudando a posiçãod o atuador hidráulico da embreagem, mas na manhã seguinte o carro estava pronto.

Ele chegou, olhou, sentou. Sorriu, meio desconfiado. Mas gostou. Foi pra pista, mais 4 voltas, voltou. Tava ruim, mas dava pra andar. Foi pra sessão de amaciamento do câmbio, 30 voltas. Terminou. Trocamos os pneus, aí sim, pra virar tempo. Mal desceu do carro, já veio me perguntando:

- Que libragem é essa?
- Estamos colocando 30 libras.
- Estão loucos, tá tudo errado. Põe 28.

Pôxa, muito errado. Mas foi um mecânico calibrar de novo. Frio, 28. Confirma? Confirma. E lá se foi o piloto. Foi e virou tempo, nada muito diferente da sessão de amaciamento, mas melhorou um pouco. Voltou, feliz da vida:

- Tá vendo? Vocês estão calibrando errado. O carro é completamente diferente agora. Muito mais previsível nas freadas, mais neutro, recebe melhor as pancadas, tá uma beleza. Sempre mantenham em 28, a não ser que eu mande mudar, ok?
- Ok. - Disse eu, meio resignado. Não mudava muito a coisa pra mim, o que interessa é que ele fosse rápido. Foi quando eu olhei para os meca. Nas costas do piloto, eles gargalhavam. Mas não era hora de perguntar porque, não dava.

A sessão de testes acabou, o superpiloto foi embora. Foi quando eu olhei a folha de setup. Nos campos de pressão dos pneus, estava:

Dianteiro direito: 32
Dianteiro esquerdo: 26
Traseiro direito: 24
Traseiro esquerdo: 28

O grande acertador de carros não percebeu que o carro estava completamente errado!! Os meca sacanearam o cidadão, e ele nem percebeu! O que aconteceu foi que no resto da corrida toda ele fazia os pedidos de acerto, nós fazíamos do jeito que queríamos, ele nem percebia e acabou abandonando a corrida sem nem ter idéia do quanto rimos dele a prova inteira.

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