sábado, 4 de setembro de 2010

Sobre asas flexíveis, asas móveis, efeito solo e turbo

A Fórmula 1 é uma indústria multi-bilionária que possui como produto final nada mais do que marketing. Lógico que puxa indiretamente o desenvolvimento de diversas tecnologias, mas estas tecnologias não pagam as contas, quem paga são os patrocinadores que por sua vez são movidos pelo marketing que a categoria proporciona.
Sendo assim, para que a categoria permaneça viva é preciso que existam carros competindo e público assistindo. Porém o balanço entre estes dois nunca foi tão difícil como durante a última década. É fácil dizer "Ah, eu queria que tudo fosse como nas décadas de 60 e 70, em que tudo era possível tecnicamente", mas isso só era possível pela inexistência ou pouquíssima participação de patrocinadores no jogo. A distribuição de renda entre as equipes era mais justa e caras com boas idéias conseguiam aparecer.
Nos dias de hoje, se a FIA não impor diversas limitações técnicas, equipes como a Ferrari que podem tranquilamente gastar 500 milhões de euros simplesmente esmagam equipes como a Williams, Force India, Toro Rosso (nem citando as três menores) e o grid passa a ter 4 ou 5 equipes. Por outro lado as limitações técnicas resultam em limitação da emoção que o público sente ao assistir as corridas e por consequencia do apelo comercial da categoria.
Com tudo isso quero dizer o seguinte: minha opinião é que a FIA tem sim que impor limitações técnicas caso contrário a categoria acaba por falta de equipes. Porém tem que ser mais inteligente nas limitações técnicas caso contrário a categoria acaba por falta de apelo comercial.
As mais recentes alterações na regra para aumentar o número de ultrapassagem renderam poucos frutos. Primeiro porque as asas dianteiras grandes foram em grande parte anuladas pelo difusor duplo, pois o carro que está a frente gera uma esteira maior com este difusor. Segundo porque apareceram os F-ducts, que foi legal quando só a McLaren tinha mas agora que todo mundo tem fica difícil pra todo mundo ultrapassar. E terceiro porque agora apareceram as asas bem flexíveis, que tornam o balanço do carro muito mais sensível quando se está atrás de outro carro.
Um exemplo do que estou falando foi o acidente do Vettel em Spa. Percebam pela câmera onboard o quanto a asa dianteira se deforma no momento em que ele tira o carro para a direita de Button. Esses carros são muito sensíveis a balanço aerodinâmico durante a frenagem e, com aquele vai não vai atrás do Button, Vettel ficou alterando drasticamente as cargas na asa dianteira (amplificadas ainda mais pela flexibilidade) e o balanço aerodinâmico pra trás e pra frente.



Para o ano que vem a FIA proibiu os F-Ducts e vem com a idéia dos flaps móveis na asa traseira, que podem ser abertos se o piloto de trás está a menos de 1s do piloto da frente. É uma idéia artificial para gerar ultrapassagens dando uma vantagem apenas para o piloto de trás, porém algumas equipes (!?!) já trabalham com alguns artifícios para garantir que a vantagem do piloto de trás não seja tão maior assim, o que significa que a idéia vai funcionar por algumas corridas e depois vai acabar em pizza novamente.
E finalmente, chego à notícia publicada esta semana sobre a possibilidade do retorno dos motores turbo e efeito solo. Motores menores e com turbo fazem muito sentido considerando que a F1 é importante no desenvolvimento de tecnologia para os carros de rua. Mas fico por aqui com meus comentários porque esta não é minha área (Cobra, escreve alguma coisa a respeito!)
A que eu mais gosto é o retorno de grandes quantidades de downforce sendo gerado pelo difusor. Para mim o grande problema atual é a extrema dependência da geração de downforce pelas asas. O aumento da participação do difusor deve ajudar em muito para que os carros consigam andar mais próximos uns dos outros e deve reduzir os efeitos do carro da frente no balanço aerodinâmico do carro de trás. O ponto negativo é que o carro fica muito mais sensível a ondulações na pista e o número de acidentes deve aumentar. Este foi o principal motivo das restrições impostas no início dos anos 80.
Aconteça o que acontecer, a FIA sabe que a F1 passa por um momento muito delicado e que a tentativa de manter um bom compromisso entre apelo comercial e número de carros no grid não é algo fácil. A notícia desta semana me anima por dar indícios de que a FIA está com a cabeça bem aberta em relação a isso!

Um comentário:

  1. Muito louca essa observação da asa dianteira no caso Vettel. Quando ele puxa o carro pra direita da Button, a asa do lado direito afunda por causa do carregamento aerodinâmico, mas o lado esquerdo da asa continua na esteira do Button. Parece que a asa torceu o que deve ter aumentado ainda mais a instabilidade.

    Mas ainda assim o Vettel abusou, ele deveria saber que andar colado assim pode causar esses efeitos.

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