domingo, 12 de junho de 2011

Le Bosse de Mulsanne

O nome é feio, mas o morro era ainda pior. Antes da FIA exigir as mudanças do circuito, a reta (1) tinha aqueles 5 km, depois uma leve curva para a direita (2), depois para o temido morro de Mulsanne.
Junto com as chicanes, a FIA exigiu uma terraplenagem do morro, que era um trampolim. Olhaí como era:

Esse é o Mark Webber capotando no warm-up da corrida de 1999. Até hoje tem um clarão nas árvores que ele derrubou. Mas o curioso é que este carro capotou na quinta-feira, durante a classificação, os meca vararam a noite reconstruindo o carro, e o carro capotou de novo, no mesmo lugar, do mesmo jeito, no sábado de manhã! Vídeo do acidente aqui:



http://www.youtube.com/watch?v=ZXZaAuyuYmQ&feature=related



Mas tem mais história da Bosse de Mulsanne. Eu participei do ano passado do Painel Motorsport no Congresso da SAE. Junto, na mesa, estava o Maurizio Sala, que correu 7 vezes a prova, algumas com um Mazda, na categoria que hoje seria a LMP1, as top.


Lucas Elias (Porsche GT3), Gustavo Brambilla (Volkswagen), "Lolo" Perdomo (UFTPR), Fernando Gonzalez (Mitsubishi), Maurizio Sala (M.Sala Motorsports), Wagner "Beegola" Gonzalez (CBA).


Quando eu perguntei da Bosse, a resposta dele:



Cara, era terrível. Você descia a reta, aqueles 5 km, chegava lá a uns 340, 350 km/h. E dava o pulo. O carro não chegava a pular, mas você sentia que ele estava solto, aquele frio na barriga. E não dava pra frear na descida! Se tocasse no freio ali, com a tranferência de peso pra frente, a traseira ficava solta e era acidente na certa! Tinha que esperar o carro "sentar" de novo no chão, sentir que estava na mão de novo, pra aí, sim, montar no freio. O problema é que a distância pra frear às vezes não era suficiente. Era realmente uma curva complicada. Hoje, com as chicanes e a terraplenagem, tá bem mais fácil.



E pra complicar, ele não falou, mas um dos grandes problemas das provas de endurance é que os protótipos (LMP) andam juntos com os carros turismo (GT). Enquanto eles descem a reta a 350 por hora, encontram uma Ferrari GT3 andando a 280. E pior, freando 150 metros antes. Encontrar um carro 80 km/h mais lento, freando antes, de noite, no final da reta, não devia ser a melhor das situações. Mas ele falou que ficava ainda pior:



Teve um ano que a ACO (Automobile Club d'Ouest, organizador da corrida) estipulou um volume máximo de combustível para ser consumido durante as 24 horas. Era uma paranóia, o engenheiro a toda hora no rádio: "essa última volta você economizou 200 gramas de combustível", "pra chegarmos no final precisamos menos 150 gramas por volta, mas a sua vantagem é só de 4 segundos. se vira." Então a gente entrava nesse morro precisando frear, precisando ser rápido, mas sem poder usar freio motor. Complicado!



As provas de endurance são assim mesmo. Estamos com 14 horas da corrida deste ano, e a Audi tem uma vantagem de apenas 8 segundos pro Peugeot em segundo lugar! Como neguinho vai pensar em poupar equipamento desse jeito?

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