sábado, 25 de junho de 2011

A Evolução da Fórmula 1

A idéia deste post surgiu com o post do Gonzo sobre a largada do GP do Canadá. Se por um lado eu concordo com a opinião de muitos sobre a artificialidade e obsessão com segurança das corridas de F1 atuais, ao mesmo tempo se eu estivesse no poder e pudesse tomar uma decisão para mudar a categoria eu não saberia o que fazer.

Começando pelo começo, a F1 era em seus primórdios uma categoria de puro automobilismo, em que pilotos corajosos entravam em carros preparados por equipes que competiam acima de tudo por paixão ao esporte. Neste formato, as equipes eram pequenas, os carros não mudavam tanto e os pilotos estavam lá mais pela fama e possibilidade de viajar do que pelo dinheiro que recebiam.

A chegada de patrocinadores no final da década de 60 e começo de 70 começou a mudar a situação. Patrocinadores passaram a pagar dinheiro para aparecer, e a categoria obviamente passou a depender de mídia para sobreviver. Na minha maneira de ver, este período começou a amplificar a desigualdade entre as equipes. Sim, na década de 50 e 60 existiam equipes melhores que as outras, mas as “menores” estavam muito mais próximas das “maiores”.

No final da década de 70 temos o fator Bernie Ecclestone, que transformou a categoria em si um grande negócio. A partir deste momento temos as equipes fazendo negócios com seus patrocinadores e temos a categoria em si sendo vendida mundialmente.

E com tudo isso mortes passaram a ser inaceitáveis! Que ninguém me diga que morte é sempre inaceitável, porque até a década de 70 pelo menos dois pilotos e mais um monte de espectadores morriam a cada ano. E até hoje existem categorias de automobilismo e motociclismo em que mortes acontecem constantemente sem comoção pública, por exemplo o Rally Dakar e Isle of Man TT Races.

Nas décadas de 80 e 90 vimos quantidades gigantescas de dinheiro entrando na categoria, pilotos ganhando salários milionários e grandes mudanças de regulamento para aumentar a segurança dos pilotos, muito após a morte do Senna em 94.

Nos anos 2000, uma quantidade colossal de dinheiro circula na categoria, as equipes de ponta têm mais de 500 funcionários, dois túneis de vento funcionando 24h, uma equipe adicional testando o carro 5 dias por semana durante a temporada e, com tudo isso, o domínio absoluto da combinação Ferrari e Michael Schumacher por 5 anos. Acabar com este domínio não era mais uma questão de boa vontade, era boa vontade e muito, mas muito dinheiro.

As grandes montadoras entram em peso na categoria comprando as equipes independentes (aquelas nascidas pela paixão ao esporte), este dinheiro sem fim era a única forma de tentar bater de frente com Ferrari e depois Renault. Porém nem todo o dinheiro do mundo estava sendo o suficiente para recuperar os anos e anos de otimização das equipes de ponta, e vimos Ford (Jaguar), Toyota, BMW, Honda sofrendo. Sofreram até o ponto em que finalmente alguém pensou: afinal, qual é sentido de gastar todo este dinheiro? E assim as montadoras começaram a sair e a Fórmula 1 como categoria chegou perto do colapso.

Se infinidades de dinheiro não eram mais suficientes para competir com as equipes de ponta, qual seria o maluco apaixonado pelo esporte que teria motivação de investir quantidades “pequenas” de dinheiro nesse esporte?

Em paralelo a tudo isso, com o nível de otimização que os carros atingiram (resultado de 500 funcionários trabalhando em cima dos projetos), as ultrapassagens tornaram-se muito difíceis.

O que fazer então? A categoria se tornou chata porque ninguém consegue ultrapassar, um ou dois pilotos vencem todas as corridas, equipes novas não conseguem evoluir até o ponto de brigar pela vitória nem com todo o dinheiro do mundo, e as montadoras resolvem que podem gastar aquele dinheiro de maneira muito melhor.

A solução tomada foi a mudança de regulamento no sentido de tentar facilitar ultrapassagens e a introdução de limites de custo. Inicialmente foram asas dianteiras maiores e traseiras menores (facilitar a aproximação ao carro da frente), limitação do número de horas de túnel e CFD, redução da quantidade de testes e um limite de orçamento anual. A parte das ultrapassagens não funcionou muito bem e neste ano foi introduzido o DRS (drag reduction system) para facilitar ainda mais. A parte de redução de custos funcionou sim e hoje, apesar de ainda existirem grandes desigualdades, equipes independentes são novamente a maioria.

Toda a história acima para chegar a esse ponto: as ultrapassagens com DRS são artificiais? Sim, eu concordo. O que aconteceu no Canadá foi ridículo? Quase concordo, não concordo totalmente porque com as reduções dos testes os pilotos não tinham experiência suficiente com os pneus de chuva e algo grave poderia ter acontecido.

Mas e o que fazer para melhorar? A F1 é ainda uma das principais categorias em que as equipes têm um monte de liberdade para projetar seus carros e que ainda se mantém livre de bandeiras amarelas ou lastros nos carros mais rápidos para equilibrar a disputa. Tem sim o DRS, mas que na minha opinião não pode ser comparado como um elemento que causa imprevisibilidade, porque é um elemento controlado que facilita a ultrapassagem do carro mais rápido sobre o mais lento. Não é automobilismo puro como na década de 50, mas não mexe com os fundamentos do esporte, não introduz imprevistos na corrida.

Alguém pode argumentar: ah mas e o rally? Rally tem naturalmente o fator imprevisibilidade e não é uma comparação justa. Nascar e Indy? Bandeira amarela e agora sorteio, como noticiado pelo Gonzo alguns post abaixo. Le Mans? Eu diria que é uma Fórmula 1 de 24h, pois existe o mesmo domínio por duas equipes porém em uma corrida que demora 24h e tem um milhão de coisas que podem acontecer. Stock Car? Carros muito parecidos.

Para mim negar a Fórmula 1 moderna é como negar o capitalismo. Você pode dizer que o capitalismo não é certo, não é justo, mas não tem muito que possa fazer, no final das contas tem que aprender a conviver com a situação. Todas as categorias de ponta são fundamentalmente capitalistas e para mim a F1 é ainda uma das mais puras. Para mim assistir a algo mais puro que isso é assistir à provas de kart ou provas de amadores.

Bom, quero dizer aqui que sei que este post vai ser polêmico e que já estou esperando os outros Zé Ruelas me destruírem com as suas opiniões, então por favor o façam sem medo!

Um comentário:

  1. Não sou fã do DRS mas que ele anulou aquela situação irritante em que um piloto com um carro bom ficava preso atrás de outro mais lento isso não há dúvida. Diminuiu muito as chances de alguém segurar o outro no braço, mas é bem menos injusto do que uma bandeira amarela. Olhando para a essência do automobilismo, ela ajuda que o melhor carro e o melhor piloto cheguem na frente. A gente pode ter lá nossos questionamentos sobre o DRS, mas com certeza não é pior do que lastro, grid invertido, sorteio, etc.

    Hoje a F-1 é negócio, assim como futebol virou negócio, basquete, Jogos Olímpicos, qualquer esporte de ponta tem patrocinadores e precisa chamar a atenção do público. E nesse ponto, acho que a F-1 busca sempre preservar a essência do autombilismo nos seus passos rumo à evolução.

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