domingo, 24 de outubro de 2010

Bloody peaky cars!

Está cada vez mais difícil encontrar tempo para escrever no blog. Mas parado, esperando a corrida começar, sobra um tempo pra lutar contra o sono. E pra algum pensamento jogado madrugada afora.

Vou começar falando de motores, pra depois expandir o assunto. A potência dos velhos e bons Cosworth DFV era alta, claro, é um motor de F1. Mas em comparação com a potência específica dos motores de hoje, era muito menor. Só que a faixa de utilização do motor era maior, ou seja, dava pra usar o motor de, digamos, 5.500 a 10.000 rpm (45% de toda escala de rotação).

Hoje, com a evolução dos motores, está tudo limitado a 19.000 rpm, mas a potência específica é muito maior. Como milagre não existe em engenharia, essa potência a mais foi conseguida reduzindo a faixa de utilização. O motor pode ser usado hoje de 14 a 18 mil rpm (21% da escala). É porque a potência do motor só está ali, não adianta trocar de marcha a 12 mil que o carro não responde.

Como consequência, os carros saltaram de 5 marchas em 1970 para 7 (limitados por regulamento) em 2010. Isso porque para ir de 0 a 200 km/h precisa usar mais marchas, para manter o motor apenas nessa pequena faixa de utilização. Pra quê fazer isso? Porque a potência é maior. A eficiência é maior.
Ruim de entender? Então vai o gráfico aí:

A linha tracejada é o objetivo: deve ser usado o motor dali pra cima. As curvas dos motores em 1970 e 2010 estão aí. E as áreas sombreadas representam as "áreas úteis" do motor. Dá pra ver que a faixa de utilização (eixo horizontal) em 1970 era muito maior que em 2010.
Isso é o que os colegas do CT chamam de peaky car. Ele está tão otimizado que a curva é um pico. Mas peraí, engenheiro, que raio de gráfico é esse que não tem escala nem legenda? O que os eixos horizontal e vertical representam?
O gráfico foi assim de propósito. Porque ele serve pra qualquer parâmetro dos carros. A F1 atual é assim, mesmo. Ela está tão otimizada em tantos aspectos que só funciona em condições específicas: Só encontra downforce com ar limpo na frente, o asfalto tem que ser liso porque a geometria da suspensão só funciona nessa condição, não pode estar muito quente porque senão derrete o freio e o motor, nem frio senão o pneu não funciona.
Enfim, esses carros são puros-sangue, monstros da velocidade, mas também são umas prima-donas que só se apresentam quando está tudo a favor deles. Isso é bom ou ruim? Realmente não sei. É legal ver homens tirando o máximo de eficiência de uma máquina. Mas é muito ruim ter que ficar tomando chuva e frio na arquibancada, ou ficar na madrugada esperando o treino ou a corrida começarem porque está um pouco mais molhado que o normal. São uns frescos.

2 comentários:

  1. Tudo bem, os carros são frescos pra andar mesmo. Mas o que é pior é a frescura da FIA em demorar para soltar os carros. Tudo bem que o Hamilton deu uma forçada hoje ao falar que dava pra andar de intermediário, mas realmente a corrida já dava pra começar, e ficamos vendo desfile de safety car por muitas voltas.

    Em Interlagos, eu vi que a pista tinha condição. Na chuva, depois da reforma de 2006, a curva do lago é o pior ponto. E lá tinha condição de começar a classificação. Esse excesso de zelo é que enche o saco.

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