sábado, 6 de agosto de 2011

F1 Shutdown

Já que o assunto aqui são as férias do CT, eu vou retrucar o Reginaldo, que disse que era balela o shutdown da F1, que todo mundo trabalha escondido. Esta semana mandei e-mail pra dois colegas de equipes diferentes, e a resposta automática foi mais ou menos a mesma:

"Dear Sir / Madam

We wish to inform you that [nome da equipe] has implemented a two-week factory shutdown from 1 August 2011 to 14 August 2011.

The two-week factory shutdown period is one of the initiatives aimed at reducing the costs associated to Formula One that have been agreed by all Formula One Teams.

In conformity with the spirit and objectives of the agreement we entered into with the other Formula One teams, we wish to inform you that the shutdown relates to all development and manufacturing activities, whether this is within our organization or contracted out.

For this reason and due to the nature of your activity, we will not liaise with you during this period (except in case of an emergency). We encourage you not to carry out any work on any [nome da equipe] components during this period.

If you have any questions or concernings regarding the above, please do not hesitate to contact Reception on [XXXXXXXXXX]."

OK, Gonzo, no papel isso é muito bonito, mas na prática a teoria é outra. Concordo.

Se você é um doente como eu, que enquanto a esposa escolhe a marca de detergente, fica pensando em como melhorar a distribuição de peso pro carrinho de supermercado curvar mais fácil, esse shutdown da F1 não funciona.

A mente do engenheiro não para, não tem como frear isso. Neguinho vai pensar em como diminuir o arrasto naquela tomada de ar, em como reduzir a massa não suspensa, em como não ter aquele pico de pressão de água no radiador. Vai pensar. Mas não vai muito longe, porque ele não tem as ferramentas pra isso.

A F1 atual, e isso pude ver pessoalmente, exige uma quantidade de cálculos, simulações, desenhos de superfície, com uma quantidade de detalhes que só podem ser feitos dentro da fábrica. O CT pode falar melhor quando voltar, mas não acho possível ele rodar uma simulação da asa que modelou na casa dele. O cluster que eles tem lá pra rodar CFD é coisa de outro mundo. Fazer em casa uma coisa aproximada, ou para se ter uma ideia, não funciona. O nível de detalhamento é tanto que, ou faz com a ferramenta certa, ou não faz.

E pra piorar, todas as informações que entram ou saem da fábrica antes, durante e depois do shutdown são monitoradas pela FIA. Inclusive com o direito da FIA em abrir o e-mail de quem quiser. Se o CT fizer login na máquina dele, mesmo que seja remoto, vai ficar um registro. Ah, mas fácil, entra lá no dia 13 e apaga os registros. E quem disse que a FIA não manda auditor pra revistar a fábrica às 3 da manhã pra ver se não tem ninguém lá mesmo?

Ok, jeito tem, sempre tem. Mas aí entra um fator humano. A F1 é uma indústria, como é a indústria automotiva ou aeronáutica. O cara sai de férias, ele quer curtir as férias, com a família, amigos, relaxar. O CT não está agora tomando chuva no meio do lago pra estudar a interação do vórtice de ponta de asa com o arrasto induzido do pneu traseiro. Ele está lá pra se divertir.

O Adrian Newey, que eu acho que é a única pessoa que poderia se dar bem numa situação dessas, por ainda desenhar seus carros com régua T e prancheta, também tem mais o que fazer. Ele deve adorar este tempo pra usar seu cérebro pra cuidar dos carros de corrida dele, dos aviões de papel que faz, viajar, enfim, cada um tem uma vida fora da F1 pra cuidar.

Então, a F1 para, sim. E o shutdown faz bem pra todo mundo. E o Bernie ainda quer colocar 50 corridas no calendário...


A foto não é nada demais, é só mais uma pra série Xupa Rafa, que tá bastante na moda...

2 comentários:

  1. Posso dizer que no meu nivel nada aconteceu durante estas duas semanas. Os unicos trabalhos permitidos foram com financas, manutencao pelo povo de IT e reformas na fabrica.

    E outra, como o Gonzo disse o fator humano eh muito importante: todos que eu conversei ate aqui estavam muito de saco cheio no final de julho e todo mundo parou e fez outra coisa (nem que outra coisa significou ficar no sofa).

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