domingo, 2 de junho de 2013

A triste tendência do automobilismo brasileiro

Enquanto assistia a etapa de Brasilia da Stock Car hoje cedo comecei a levantar alguns dados para projetar o que será do automobilismo brasileiro em 2018. Para olhar cinco anos a frente, olhei cinco anos para trás (2009). A conclusão é dramática:

- Na F-1 tinhamos 3 brasileiros no grid - Barrichello, Massa e Nelsinho - em 2013 apenas 1, Massa (32 anos). Barrichello se diverte na Stock e Nelsinho tenta reconstruir a carreira na Nascar.

- Na GP2 tinhamos 4 brasileiros: Alberto Valério, Diego Nunes, Razia e Di Grassi - em 2013 apenas Felipe Nasr. Razia chegou na F-1 mas nem correu. Se enrolou com patrocinadores e já virou repórter da Globo. Di Grassi partiu para o WEC, mesmo destino de Bruno Senna. Diego Nunes está na Stock e deu uma bela pancada hoje. Alberto Valerio passou pela Stock e não sei o paradeiro.

- Na F-Indy tinhamos 5 brasileiros: Helinho, Tony, Raphael Matos, Mario Moraes e Vitor Meira - em 2013 apenas 3, Helinho (38 anos), Tony (38 anos) e Bia Figueiredo, sendo que como escrito no post anterior, sabesse lá quantas vezes ainda vai pilotar esse ano.

- Na Indy Lights tinhamos 4 brasileiros: Bia Figueiredo, Mario Romancini, Rodrigo Barbosa e Felipe Guimarães - em 2013 apenas Victor Carbone. Felipe Guimarães foi encontrado na F3 Inglesa. O mesmo Felipe Guimarães corre contra APENAS 5 carros na F3 Brasil. Dos outros não achei o paradeiro.

- Na Formula 3 Inglesa tinhamos 4 brasileiros: Adriano Buzaid, Gabriel Dias, Victor Correa e Pedro Enrique - em 2013 apenas Felipe Guimarães. Não ouço o nome de nenhum deles como pretendentes à F-1 e Indy.

- Não identifico o nome de nenhum dos 10 primeiros colocados da Formula 3 Sulamericana de 2009 correndo em alguma categoria importante - eram 19 pilotos, sendo 18 brasileiros. O site atual da F3 Sudam não abre. Pelo wikipedia descobri que em 2013 são 14 pilotos, sendo 12 basileiros.

- Felipe Nasr venceu a Formula BMW Europeia em 2009. Não temos pilotos brasileiros por lá em 2013.

- A situação dos autódromos só piora. Perdemos Jacarepagua. Os demais circuitos que aparecem na TV em transmissões da Stock Car ou Formula Truck continuam iguais, caindo aos pedaços, podres, amadores. Nesse final de semana em Brasília as novas zebras desmancharam. Tampas de bueiros soltos pularam para fora com a passagem dos carros.

- A pista (e não o autódromo) de Interlagos é o único que se salva obviamente pelas exigências de Bernie Ecclestone.

A conclusão triste é que em 2018 o sucateamento do nosso automobilismo será mais evidente do que nunca. A geração atual de pilotos brasileiros na Indy e F-1 não estará mais correndo - imagino que a turma de hoje não chegue além de 2014 ou 2015 por causa da idade e falta de oportunidades. E a safra de reposição não veio. A peneira para alguém chegar na F-1 ou Indy é fina demais, se um país não tem volume de criação em sua base, a probabilidade é cada vez menor. E a base é responsabilidade total da CBA que faz um trabalho degenerativo do esporte com grande eficiência. Cleyton Pinteiro será lembrado como o presidente em exercício no ano em que o Brasil ficou sem pilotos nas principais categorias do mundo.

Outra indignação vem da passividade dos nossos pilotos. Hoje na Stock Car correm pilotos que passaram pela F-1 como Barrichello, Zonta, Pizzonia, Burti, Tarso Marques e outros nomes já consagrados na categoria como Cacá Bueno, Thiago Camilo, Ricardo Mauricio, etc. Meu Deus, esses caras tinham que lutar mais, forçar a profissionalização das coisas, cobrar mais, se negar a correr em situações como que aconteceram em Brasília. Essa turma poderia fazer algo diferente se atuassem unidos em prol do esporte, das categorias de onde todos eles vieram. O triste é que parecem contaminados pelo sistema também. Ou seja, vai de mal a pior.

Mas ainda pode piorar! A Globo luta contra a perda de audiência nas corridas há anos. Será que a coisa sobrevive sem brasileiros no grid? Sem apoio da Globo, será que Interlagos sobrevive? Na Bandeirantes nem Kanaan vencendo a prova mais importante do ano foi motivo para atrasarem em 5 minutos a transmissão do futebol (e o jogo era da PONTE!!). Será que a coisa sobrevive sem brasileiros no grid? Sem apoio da Bandeirantes, será que a Itaipava Indy 300 sobrevive?

Pois é, essa é a conclusão que eu chego, não por ser pessimista, mas por não haver nada que aponte para uma tendência diferente. O automobilismo brasileiros caminha a passos largos para viver apenas do seu passado, esperando o dia que alguma mosca branca apareça e salve o esporte. É muito provável que em 2018 não teremos mais pilotos na Indy, na F-1 e o Brasil não terá mais as corridas da F-1 e Indy. Se até lá alguém ainda gostar desses esportes, é bom se preparar para uma nova realidade.

Um comentário:

  1. Muito boa a sua pesquisa sobre a situação. Para um engenheiro o automobilismo no Brasil nunca foi uma maravilha, nunca foi profissional o suficiente para ser uma fonte de renda e todos nós que tentamos alguma coisa por lá foi se sujeitando a trabalhar no final de semana para receber laranjinha como pagamento.
    Para os pilotos pelo menos tínhamos categorias de base, hoje em dia você tem que ser bom e ter costas muito quente (como o Nars) para financiar a aventura no exterior. É triste!

    ResponderExcluir