sábado, 22 de outubro de 2011

Reflexões sobre a morte de Wheldon – agora sabendo de Simoncelli

Comecei a escrever este post no sábado à noite. Não deu tempo de terminar e deixei para o domingo cedo. Tempo que foi suficiente para outro choque no mundo do esporte a motor, dessa vez na MotoGP. Essa noite foi a vez de Marco Simoncelli, piloto italiano de 24 anos, perder a vida num acidente muito parecido com o que matou Shoya Tomizawa da Moto 2 cerca de 1 ano atrás. É mais um caso que se encaixa no que estava escrevendo. Então segue o que já estava pronto.

“Apesar do silêncio no blog ao longo da semana, conversamos muito por e-mail e isso foi interessante para uma reflexão sobre o acidente no GP de Las Vegas da Indy que levou à morte do inglês Dan Wheldon. Nos jornais, sites especializados, blogs, todos buscam explicar as razões, encontrar erros, culpados, ou apenas aceitar que isso faz parte do jogo. Muitos pilotos da Indy, F-1 e outras categorias deram suas opiniões, que variam amplamente na questão dos riscos, do absurdo de colocar tantos carros numa pista pequena, na questionável segurança dos carros da Indy. Mas a grande maioria, pra não dizer todos porque não tenho certeza, terminam com algo do tipo: sabemos dos riscos, mas por amor ao esporte seguimos em frente.

A reflexão de tantas informações nos leva a montar um ponto de vista sobre o que aconteceu, nem tanto na avaliação do porque Dan Wheldon morreu, mas no sentido do automobilismo como um todo. O que faz um ser humano decidir por pilotar um carro a 350 Km/h apenas para chegar na frente dos outros? A resposta é a mesma do porque um cara aceitou sentar num foguete com asas para quebrar a barreira do som. Ou mesmo viajar até a lua. O ser humano é insano por natureza, essa é a realidade. E essa insanidade é refletida tanto no comportamento daqueles que aceitam correr riscos por prazer, por glória, por heroísmo, quanto por aqueles que transformam esses loucos em pseudo-deuses por considerá-los pessoas especiais, dotadas de um talento fora do comum e que aceitam aumentar os riscos pelo prazer da conquista. Em algum post esquecido no passado desse blog escrevi certa vez que a Nascar era uma verdadeira alusão ao pão e circo de Roma, uma caracterização moderna de um espetáculo de gladiadores. No Coliseu, a morte fazia parte do jogo e se não acontecesse, a turma voltava para casa decepcionada. Hoje temos Nascar no Super Speedway de Talladega onde todos esperam que aconteça o “Big One”, um acidente que envolva muitos carros ao mesmo tempo. Se isso não acontecer, garanto que a maioria volta pra casa dizendo que a corrida foi chata. E cada um dos pilotos que vai largar hoje sabe disso, e sabem que podem ser o escolhido da vez na pancada. Pergunte a cada um deles se querem desistir por causa dessa possibilidade? Não mesmo.

Vejam o caso do próprio Dan Wheldon. Venceu duas vezes as 500 milhas de Indianápolis. Tornou-se celebridade, tornou-se um herói. Está eternizado na memória da categoria, seu rosto no troféu mais famoso do automobilismo. Será que ele trocaria tudo isso mesmo se soubesse que aos 33 anos morreria numa pista de corrida? Sinceramente não sei porque outros fatores como família entram na jogada, mas não seria uma resposta fácil.

Nelson Piquet disse numa entrevista que deve ser facilmente encontrada no Youtube alguma coisa do tipo: o público assiste corrida para ver acidente, tragédia. Quanto mais batida, melhor, senão ele perde o interesse, desliga a TV e vai fazer outra coisa. Concordo 100% com ele. O ser humano gosta de tragédia, isso vende, o drama vende. Uma pequena minoria assiste corridas para ver um ser humano talentoso tirar cada milésimo de segundo possível de um projeto de engenharia de milhões de dólares otimizado ao extremo.

Por mais que os envolvidos (pilotos e espectadores) saibam dos riscos existentes, quando alguém morre numa competição fica aquela impressão de que a coisa passou do limite. E a conseqüência são os questionamentos sobre segurança, riscos elevados, etc. Mas basta um mês para que isso seja superado e tudo volte ao normal para o público em geral.”

O caso de Wheldon, e agora infelizmente o de Simoncelli também, são sim fatalidades. No caso da Indy ficou a sensação de que correr naquela pista, com 34 carros, parecia um risco além do padrão. Não concordo com isso porque a coisa funciona assim há muitos anos na Indy. É só ver o número de fatalidades nos últimos anos quando comparamos com a F-1. É porque a F-1 é mais segura? Não sei, prefiro considerar a Indy apenas mais arriscada que a F-1. A exposição a um acidente é muito maior num oval do que num circuito misto. Em termos de segurança do carro ou proteção aos pilotos, são muito parecidas.

Certamente a perda da vida desses caras vai elevar de alguma forma o padrão de segurança das categorias, é como num acidente aéreo, alguma coisa precisa ser feita. É cada vez mais inaceitável a perda de um herói ao vivo e a cores. Mas... seria inadmissível, e ai entra a insanidade do ser humano, acabar com o risco do automobilismo. O dia que o piloto sentar num simulador e o carro na pista for apenas uma máquina comandada à distância, o interesse simplesmente acaba. Porque os pilotos passariam a ser reles mortais como qualquer um de nós.

2 comentários:

  1. Caraca. Muito, mas muito bom mesmo o texto.

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  2. Muito bom o texto, concordo com o Gonzo!
    Eu pensei algumas vezes em escrever sobre o assunto mas resolvi ficar quieto, acho que voce resumiu bem o momento e nao tem muito mais pra ser falado...

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