domingo, 19 de janeiro de 2014

2014!!!

Tô de volta! Estamos finalmente em 2014 e em alguns dias começaremos a ver os carros novos, carros em que algumas equipes trabalharam por mais de dois anos (uma eternidade em termos de F1). A mudança do regulamento é gigantesca, maior do que a mudança que aconteceu em 2009, e os desafios técnicos são imensos. Neste post aqui eu vou escrever sobre a minha experiência com o novo regulamento, que se concentra na aerodinâmica.

O primeiro passo no projeto do carro de 2014 foi adaptar o carro atual (no meu caso foi o carro 2012 da Caterham) ao novo regulamento. Afetando a aerodinâmica de maneira direta, tivemos quatro mudanças fundamentais: 

- A asa dianteira é mais estreita: a consequência óbvia desta mudança é a redução de área de asa, o que significa uma potencial redução do downforce gerado. Porém mais importante que isso é que as estruturas do escoamento na ponta da asa foram movidas em relação ao pneu dianteiro e isso causa um efeito gigantesco no formato da esteira do escoamento sobre o pneu e a estrutura do escoamento chegando na região traseira do carro. Diferentes filosofias de projeto nessa área são esperadas para diferentes equipes e eu acredito que diferenças bem grandes de performance entre os carros estarão relacionadas a essa área.

- Bico mais baixo: o novo regulamento impõe uma altura máxima para a seção que fica 50mm atrás do ponto mais a frente do bico. Bico aqui é a estrutura de impacto, partes da asa dianteira não são consideradas. Os bicos altos são responsáveis por uma enorme quantidade de downforce e a simples adaptação dos bicos atuais para o novo regulamento não é uma opção! Cada equipe vai vir com a sua solução e se preparem, todas elas serão estranhas. E feias! Eu trabalho com o carro 2014 há mais de um ano e ainda estou me acostumando...

- Fim da beam wing: a beam wing era a asa que ficava logo abaixo da asa traseira, chamada de beam wing porque era um elemento estrutural. Esta não existe mais e um efeito imediato é que a asa traseira será sustentada por pilares centrais. Ela significa também uma perda decente de downforce na traseira, parte vinda pela falta da beam wing e parte pelo efeito negativo no difusor.

- Restrições na posição do escapamento: agora acabou, o escapamento é central e ganhos de performance aerodinâmica pelos gases do escapamento serão muito limitadas. Ainda teremos um pequeno ganho, mas nada comparado com o que vimos nos anos anteriores.

E a outra grande mudança que afeta a aerodinâmica indiretamente será o sistema de powertrain. O novo sistema é muito complexo, packaging muito complicado e cooling muito importante. Serão diversos radiadores e acredito que nenhuma equipe possui domínio completo nessa área. Esperem carros superaquecendo e incêndios nos primeiros testes. A abordagem de cada equipe nesta área provavelmente resultará em carros mais lentos porém mais duráveis e carros mais rápidos e com problemas de durabilidade. Isto porque para arrefecer mais o sistema você precisa de uma carenagem maior e isso tem um efeito muito negativo na performance aerodinâmica. 

Este começo do ano vai ser muito massa. Abram as suas mentes, os carros serão muito diferentes e mais feios. E acreditem, cada pedacinho dos carros foi testada, testada e testada e tem uma boa razão para ser daquele jeito.

3 comentários: