domingo, 26 de agosto de 2012

Quando o que importa é ganhar, não competir

Olimpíadas de Pequim, 16 de Agosto de 2008. Em 21 segundos e 30 centésimos, César Cielo se tornava o primeiro brasileiro a ganhar uma medalha de ouro na natação em jogos olímpicos, na prova dos 50 metros livres. Em segundo e terceiro chegaram dois franceses - Amaury Leveaux e Alain Bernard, que completaram a prova em 21s45 e 21s49 respectivamente. César Cielo é o homem mais rápido do mundo nas piscinas. Vira herói brasileiro.

Olimpiadas de Londres, 03 de Agosto de 2012. Quatro anos após o ouro de Pequim, Cielo cai na piscina para uma nova final dos 50 metros, só que desta vez com um país inteiro nas suas costas, contando com um ouro certo. Bastaram 21 segundos e 59 centésimos (29 centésimos a mais que 2008) para Cielo conquistar sua terceira medalha olímpica, desta vez de bronze. O francês Florent Manadou venceu a prova com 21s34 (4 centésimos a mais que Cielo em 2008) e o americano Cullen Jones pegou a prata com 21s54. César Cielo é agora o terceiro homem mais rápido do mundo nas piscinas. Vira um vilão brasileiro. Amarelou. Decepcionou.

As duas semanas e pouco de Olímpiadas são o momento maior na vida de um atleta que pratica as modalidades oferecidas. São anos e anos de preparo que se resumem em apenas alguns jogos, alguns dias, algumas horas, ou se bobear menos de 1 minuto se o infeliz levar um ippon na primeira luta dele no judô. Pra quem não está lá mas é doido por esportes como eu, é um prato cheio para ficar pulando entre os canais assistindo tudo que era possível. É volei de praia, luta greco-romana, judo, badminton, remo, natação, vale qualquer coisa.

No meio dessa imersão esportiva temos a oportunidade de ver momentos incríveis. São momentos de glória, alegria e surpresa, correndo lado a lado de momentos de tristeza, dor e decepção. Ao mesmo tempo que alguém ganha, alguém vai perder. E como todas as vezes o Brasil se enche de esperança através dos seus principais atletas, mas basta que apenas um dos resultados "garantidos" não aconteça para que a enxurrada de críticas apareça. A pequena biografia olímpica de César Cielo no começo do post é um dos principais exemplos.

Cielo era uma medalha de ouro "garantida". Herói brasileiro!! É o grande campeão!! É nosso herói!! Lá vai ele, caiu na água!! Vai Cielo, detona garoto!!! Vai... vai... vai.... vaaaaaiiiiiii........ terceiro??? Medalha de bronze??? Que bosta... xi, não é mais o mesmo... amarelou né? É, o Cielo já era, que papelão! Bom mesmo é o Arthur Zanetti e a Sarah Menezes, brasileirinhos, campeões olímpicos!! O que? Tinha outro brasileiro na final né?? Um tal de Bruno... ficou só em quarto... putz, que droga, não pegou nem pódio numa prova que ganhamos o ouro há 4 anos... que decepção, vou ver a novela... daqui 4 anos eu vejo natação na TV de novo. Uma medalha de bronze tratada como lixo. Dois brasileiros entre os 4 mais rápidos do mundo. Grande coisa, não ganhamos o ouro... bom mesmo era o Senna, esse sim não decepcionava a gente!!

Sabe qual é o maior problema do esporte brasileiro? Não é a falta de política esportiva. Não é a falta de patrocínio, nem a falta de investimento nas categorias de base. Não é falta de dinheiro, não é falta de recurso material nem de visão de futuro. O maior problema é o povo brasileiro. Um povo que só pensa em ganhar, egoista por natureza e que transforma heróis em vilões num piscar de olhos. O que fizeram com o César Cielo em Londres e que se repete com tantos outros atletas em tantos outros lugares (na F-1 por exemplo) é uma agressão e um desrespeito ao profissional e ao ser humano que não tem política esportiva, investimento ou qualquer outra coisa que resolva. Garanto que 99,9% das pessoas que detonaram atletas como o Cielo, Diego Hipólito e Tiago Camilo, nunca perderam 15 minutos assistindo um campeonato de natação, ginástica ou judô que não fosse Olimpíadas.

Peço desculpas pela provável chatisse deste post mas foi irritante ver o comportamento do povo brasileiro  que não entende nada do assunto detonar pessoas que se dedicam de forma impressionante às suas atividades. Os atletas lutam uma vida inteira para chegar numa Olimpiada. Quem chegou lá, é muito, mas muito bom. É como piloto que chega à F-1. Tem uns melhores que os outros, lógico. Mas todos são excelentes, qualquer um deles está num nível que nenhuma pessoa comum possa imaginar se aproximar algum dia. A diferença entre a vitória e a derrota está em detalhes tão mínimos que julgá-los apenas por resultados é injusto demais.

A grande verdade é que para ser atleta profissional representando o Brasil, tem que ser muito mais do que bom. Porque além de ser o melhor naquela modalidade que ele escolheu, precisa suportar um país inteiro que cobra apenas vitórias, não tolera de forma alguma as derrotas e o pior, não demonstra nenhuma sensibilidade pelo esforço e dedicação. Falta acima de tudo, educação, porque é através da educação que se aprende a ter respeito pela pessoas. O povo brasileiro, em geral, não tem respeito pelo seus atletas.

Repetindo o famoso jargão de Milton Leite, que beleza!!

Pronto, demônios exorcizados. Voltemos aos propósitos deste blog.

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