sábado, 6 de agosto de 2011

História dos Meca (8)

Esta semana começa o Rally dos Sertões. E durante a preparação do rally você se lembra das dificuldades de participar de uma campanha de guerra como essa. É uma situação extremamente estressante para a equipe de apoio, dormindo cerca de 3 horas por dia, dormindo sempre sentado no carro, durante o deslocamento, torcendo para o cara que está dirigindo não estar dormindo também.

Faltam horas de sono, os prazos são apertados, deslocamentos enormes em estradas péssimas, e junto com isso os conflitos de saber onde está o carro de corrida, ferramenta que some, peça que quebra, pneu do carro de apoio que fura, tudo dando errado o tempo todo. O Sertões é assim, e tem que ser assim, uma prova duríssima para todos os envolvidos.

Então, colocar gente de mau humor, que cansa fácil, que quer sempre dar a útima palavra, ou que está lá só pra fazer o seu trabalho, não funciona. Tem que ter bom humor, e desempenhar tarefas que você nem sabia que existiam, ser polivalente.

O Capixaba é um cara assim. Trabalha 22 horas por dia, se preciso. Ele é o motorista de caminhão da equipe, e sempre com uma piada na ponta da língua. Sempre tem uma tirada boa para quebrar o gelo nos momentos mais tensos, e dar uma risada pra manter o ânimo quando as coisas estão bem. E consegue dar uma bronca usando o bom humor:

- Ô meu querido, você tá muito encostado. Tá parecendo rabo de bode!
- Rabo de quê, Capixaba?
- Rabo de bode, mermão!
- Mas porque rabo de bode?
- Porque rabo de bode não consegue abanar as moscas e nem cobrir o fiofó. No final o rabo do bode não serve pra porcaria nenhuma!

Ele é assim 100% do tempo, não dá pra ficar 2 minutos do lado dele sem dar uma boa risada. Mas na hora de agarrar e trabalhar, ele cai dentro do problema e invariavelmente ajuda e resolve.

Mas a história que eu quero contar é outra. Num desses rallies da vida, o chefe de equipe era um cara famoso, chegou até a participar da F1. O capixaba nessa prova, além de motorista, era o cozinheiro da equipe. E preparou um belo churrasco, o deslocamento era mínimo e dava tempo de passar num bom açougue pra comprar carne.

O chefe de equipe estava fazendo apoio de largada, longe do acampamento. Mas, pelo rádio, passou a ordem: "Capixaba, eu tô com vontade de comer linguiça. Você pode dar até picanha pro pessoal, mas deixa a linguiça pra mim".

Mas a linguiça já estava assando. Sobrou só um cordão, que ele guardou separado, afinal, chefe é chefe, as coisas já estão tensas, e desagradar o chefe não é uma boa. Capixaba é engraçado, mas bobo ele não é não. Tiraram sarro da preferência do chefe pela linguiça, mas tocaram a vida.

No final da tarde, todo mundo de bucho cheio, esperando o carro de corrida chegar para entrar no serviço. E novo rádio do chefe: "Capixaba, tô chegando, morrendo de fome. Não parei pra comer em lugar nenhum, tô indo direto praí. Sobrou um pouco pra mim?" "Claro, chefe, a sua tá separadinha, especial aqui. Tô colocando pra assar agora."

E colocou mesmo. Como todo mundo já estava de bucho cheio, não precisava se preocupar. A do chefe estava garantida, deixou assando e foi cuidar da limpeza da cozinha. Faltou combinar com o vira-lata da cidade. Enquanto limpava a pia, escutou um barulho na churrasqueira. Se virou, a tempo de ver o cordão de linguiça sumindo da grelha.

Não teve dúvida, saiu correndo acampamento afora atrás do ladrão. Alcançou, derrubou o cão, que não era pequeno, e se engalfinhou com ele. Quem viu a luta disse que pareciam dois animais brigando pelo último pedaço de carne da Terra. E no final, quando a poeira baixou, o homem ganhou.

Diante da surpresa de todo mundo, ele tirou a poeira da carne, lavou a linguiça, e colocou de volta pra assar. "Não tem nada, não, é só tirar esse gomo mordido aqui do meio, não vai dar nem pra perceber."

E foi na hora que a carne batizada ficou pronta, o chefe chegou. E foi direto no Capixaba:

- E aí, o cheiro tá bom. Cadê a linguiça?
- Tá aqui chefe, acabei de fatiar, tá até saindo fumacinha.
- Humm, mas isso aqui tá muito bom, realmente especial!
- Pois é chefe, é um temperinho que eu inventei.
- O que é?
- Ah, isso eu não posso falar, se te contar meu segredo você nunca mais me chama pra trabalhar na equipe!

E até hoje o chefe não sabe qual é o tempero que o colocaram na carne dele...

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