quinta-feira, 27 de maio de 2010

Empresários

Bom, não consegui confirmar a informação, então fica tudo nos aproximadamente. É que não sei se vou ter tempo para voltar ao assunto em breve.

Felipe Massa está fazendo um belo favor ao automobilismo nacional este final de semana. Ele está lançando o F-Future, categoria de monopostos-escola. cobrindo a lacuna entre o kart e a Fórmula 3. Isso todo mundo sabe.

O que pouca gente sabe é que além de retribuir o que ele mesmo fez, como participante das extintas Fórmula Chevrolet e Fórmula Renault, ele também tem um segundo objetivo: ganhar dinheiro com isso.

Ok, claro, ninguém entra numa barca furada pra gastar dinheiro. Ainda mais com automobilismo. A máxima "para se ganhar uma pequena fortuna com automobilismo, é necessário começar com uma grande" continua valendo. Mas como Felipe vai tirar dinheiro de um ralo?

Sendo empresário. Ele vai usar a sua categoria escola para descobrir novos talentos, fazer contratos de décadas, e levá-los até a F1. Ou o mais perto disso que ele puder. Isso é uma tentativa de cobrir, ou tentar recuperar os custos que ele teve ao longo da carreira. Hoje, cerca de 42% dos seus ganhos vão para Nicolas Todt. Quarenta e dois porcento!!!

Em 2002/2003, era uma situação de pegar ou largar para o Felipe. Estava demitido na Sauber. Teve a sua chance na F1 e ela estava escapando. Quando apareceu Nicolas. Oferecia boas equipes, e um retorno à categoria. E conseguiu. Uma ano de testes na Ferrari, mais duas temporadas boas na Sauber Ferrari, e se firmando um bom piloto, a mudança para Maranello, dando a volta por cima.

42%, ou mais! (foto Crash.net)


Valeu a pena ter vendido a alma ao diabo, fazendo um contrato de longo termo? Valeu, sem dúvida. Sem Nicolas, provavelmente Felipe estaria dividindo curvas com Gerson Gouveia numa corrida fajuta de Stock Car para novela na Globo.

Mas assim como no futebol, a figura deste câncer que é o empresário está cada vez mais presente. Eles são verdadeiro atravessadores do negócio. Fazem os contatos, e tiram dinheiro dos pilotos e das equipes, sem muito esforço. Claro, negociar com equipes de F1 não é fácil, mas com certeza é muito mais difícil pilotar a 300 km/h ou preparar um carro competitivo a 300 km/h.

A culpa não é dos pilotos. A culpa não é das equipes. A culpa é da situação, e na verdade é culpa de todo mundo. Porque eles colocaram os dirigentes que estão lá. E ser empresário num ambiente em que caras como Briatore e Ecclestone mandam é um mar perfeito para tubarões. Mas, de novo, sem Ecclestone provavelmente a F1 estaria correndo com carros feitos de monocoque de alumínio, descobrindo o CFD agora...



Esse é o tipo de empresário que a F1 precisa? (Foto: Felix Heyder - EFE)
Mas o que mais me preocupa é o serviço que os empresários podem prestar. Se eu tenho dois pilotos, ficando com 15% dos lucros do primeiro, e 30% dos lucros do segundo, e uma vaga em um time grande, qual dos dois eu vou empurrar para a equipe? O talentoso, de quem eu consegui arrancar somente 15%, porque ele tinha um futuro promissor, ou o mediano, que desesperado me deixou ficar com 30? O resultado pode ser uma F1 de pilotos medianos.
Ah, mas o empresário tem o risco. E se o piloto não vingar? Ele deixa de ganhar os seus porcentos. E o piloto aposenta o capacete. Mas se a carreira do piloto acabou, o empresário vai cuidar da vida de seus 6 ou 7 outros pilotos. Briatore passou por Fisichella e tantos outros, até acertar com Alonso.
Dizem que Vettel não tem empresário, cuida da vida própria, e negocia seus contratos ele mesmo. Mas com as cláusulas absurdas e contratos de 300(!) páginas dos pilotos de ponta, duvido que ele consiga manter isso. Aí vai cair na mesmice de ter que falar as palavras que a assessora de imprensa coloca na sua boca nas entrevistas. A máquina Fórmula 1 é um rolo compressor mesmo.
E tem as carreiras, que por algum motivo não deslancham. Bia Figueiredo é uma excelente piloto. Já contei, fui comissário de uma corrida confusa na Bahia, e a menina, com 15 ou 16 anos na época, era a mais sensata e madura do grid. Na época, a Fórmula Renault era administrada por Pedro Paulo Diniz e André Ribeiro. E a equipe da Bia era do Augusto "Formigão" Cesário.
Curiosamente, hoje os empresários de Bia são... André Ribeiro e Formigão! Massa não é o primeiro a descobrir talentos... A F-Renault acabou, por alguma discussão entre os promotores, acusações, etc. Mas não quero entrar na índole do André nem do Cesário.
Só que eu fico incomodado com o fato da Bia sofrer tanto para chegar lá, apesar do talento, simpatia, beleza e inteligência. Será que o contrato dela é de 15%, ou os seus empresários estão pisando na bola, por falta de competência?
Será que está com o empresário certo? (Foto Globoesporte.com)
No final, quem perde com isso? O esporte. É duro ver times como o Palmeiras na mão de empresários, é duro ver o Santos, que vem montando um timaço há anos, ter uma parte do Neymar, uma unha do pé do Ganso, e o resto estar na mão dos empresários. E a F1 vai pelo mesmo caminho. Tomara que acordem e mudem esse quadro, antes que se torne o Campeonato Mundial de Empresários de Fórmula 1.

2 comentários:

  1. Eu queria ser empresário de alguns estudantes de engenharia que passaram pelo formula...

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  2. Gonzo, seu post tá bem legal, a realidade é exatamente essa e não tem como lutar contra. Ou você cria uma forma diferente e mais eficiente de se trabalhar (diga-se, onde todos ganhem muito mais dinheiro...) ou você precisa se adequar ao sistema. Empresários estão em todas as partes, em todos os esportes.

    Só não concordo muito com o caso da Bia. Ela é um talento sem dúvida. Mas não sei se é todo esse talento pra chegar no topo do automobilismo mundial. Acho que o André Ribeiro e o Formigão estão fazendo um trabalho muito bom com ela. E sem dúvida o fato de ser mulher ajuda porque o mundo aguarda ansioso pela mulher que vai colocar os homens no chinelo.

    Conheço pouco sobre a capacidade dela para acertar um carro de corrida e não vou opinar sobre isso, mas as atuações em circuitos mistos me deixaram meio desapontado. Espero mesmo que o talento dela esteja nos circuitos ovais. Amanhã ela tem 1/33 chances de fazer história...

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