É mais do que isso

Velo Cittá (divulgação MMCB)

Agora já houve divulgação da pista, a foto acima tá até no site da CBA, até o Gomes falou sobre isso, então posso falar. Vou dar uma daqueles velhos, que estavam no GP Brasil de 72, estavam no box quando o Lauda/Laffite/Emerson entraram no carro e fizeram a 1 e a 2 flat pela primeira vez, essas coisas.

Mas eu vi, mesmo. Naquele terreno descampado, no alto da foto à direita, é o local onde eram (e ainda são, acho) feitos os testes dos carros de rally. Passei vários dias fazendo testes de durabilidade e de ajuste do carro nessa fazenda. Conheci esse terreno onde hoje é o autódromo desde quando ele era um descampado, só tinha umas trilhas para testar os carros da Equipe de Cross Country da Mitsubishi. Até uma etapa da Mitsubishi Cup foi feita por aí. Então vi desde os primeiros momentos de terraplenagem, construção da primeira fase, depois a extensão da reta e do último trecho. 

Como sou mala, vou dizer que me levaram pra dar uma volta num two-seater ainda quando o asfalto nem estava curado, e as áreas de escape nem estavam prontas. Foi muito bom. Não tem foto, imagem de TV, onboard, o escambau, que dêem uma mínima noção do que é esta pista. O relevo acidentado, o traçado, que parece sinuoso e apertado, foi escolhido a dedo, por pilotos do calibre de Ingo Hoffmann. E não, não é um kartódromo. É larga, com curvas desafiadoras de alta, e uma reta longa o suficiente pra você repensar a sua vida na hora de frear pra curva 1.

O Velo Cittá foi concebido para ser uma pista de corrida, mas com que o piloto tenha o prazer da pilotagem.  Aliás, é um lugar para se divertir, e ainda disputar uma corrida. Um lugar pra quem gosta de velocidade, sentir o prazer de guiar um carro no limite, nas mais variadas condições, e num lugar paisagisticamente maravilhoso. Eu sei, quem está na pista não quer nem saber do que está em volta, mas o prazer só de entrar no autódromo é uma coisa espetacular.

Falei do projeto, mas vou falar da construção. Era pra ter saído antes. Alguns anos antes. Mas demorou para sair a licença ambiental, o que atrasou muito as obras. E é isso o mais legal: não houve "jeitinho", foi tudo feito dentro da lei. (Incrível ressaltar isso, deveria ser o normal, mas neste país sabemos que não é.) A licença ambiental demorou a sair? Paciência. Nada foi atropelado ou feito de qualquer jeito. 

Eu vi, pessoalmente, as discussões do administrador da fazenda, explicando ao pedreiro detalhes da construção da caixa de drenagem de água dos boxes. Um detalhe, eu sei, parece mínimo perto de uma obra dessas. Mas isso é o Velo Cittá; uma bela obra feita e pensada nos mínimos detalhes. A colocação dos guard rails, o assentamento da brita grossa, da brita fina, das capas asfálticas, pinturas, grama, irrigação, zebras, box, tudo feito nos detalhes. Tudo muito bem feito, e de primeira. Nada de retrabalho, nem materiais meia boca. Resultado? Um lugar espetacular. 

Dá raiva de ver um lugar como Interlagos, equipamento público, com aquelas soluções toscas nos boxes, aqueles banheiros, aquele descaso na hora da construção malfeita. O Velo Cittá tem um dono. Foi tudo feito para ele, com supervisão dele. Por isso ficou tão bom. E ele aluga (e cobra mesmo) o espaço para Mitsubishi e Suzuki realizarem seus eventos. O cara tem a velocidade nas veias, e não fica de blablablá, anunciando no jornal autódromo aqui e ali. Ele vai lá e faz. E vem mais coisa por aí, esperem os próximos anos, o que vai ser ainda feito naquele lugar.

A Porsche vai correr lá este final de semana. Mas essa, infelizmente, não vai ser a regra. É uma corrida só pra homologar o circuito, e outras mais podem acontecer, mas não serão muitas. O homem não quer bagunça no quintal dele. E tá muito certo nisso. O automobilismo brasileiro não está fazendo por merecer um lugar como o Velo Cittá.