sábado, 9 de julho de 2011

Se você abrir uma exceção à regra...

Acho que foi lá pelo ano de 2002 ou 2003. Eu já fazia parte do Comitê do Baja e estávamos em Piracicaba durante a competição. Não lembro exatamente qual foi o incidente, mas o Comitê estava reunido na famosa casinha da organização que até hoje luta contra as rachaduras para se manter em pé, para resolver um problema da competição. Também não direito de quem estava lá, mas as imagens do Massami, João Hermmann e Durval Roque são nítidas.

Mas o que eu lembro muito bem daquele dia foi uma lição que usei muitas vezes nas competições que vieram depois. E que vou continuar usando, não apenas no Baja. Diante do problema que tinhamos, várias idéias surgiam, alternativas que provavelmente passavam por mudar horários previamente acertados, alterações de última hora nos procedimentos ou mesmo abrir exceções ao regulamento. Diante de uma dessas opções meio desesperadas que sugeri, com a melhor das intenções para acabar com o rolo, o Durval me pegou pelo braço com a regra do Baja na mão e disse alguma coisa como: "isso é a única coisa que te suporta aqui. Se você abrir uma exceção à regra, vai ter que abrir várias e você perde o controle da Competição." Tive muitas richas com o Durval na época de estudante e logo que entrei no Comitê. Um puro choque de gerações que felizmente virou piada nos dias atuais em que já tenho meus cabelos brancos. Mas não posso negar que essa lição fez diferença em muitos momentos que vieram depois.

Eu lembrei dessa história hoje cedo, assistindo ao treino da F-1 em Silvestone e tentando entender as mudanças de regra sobre os gases de exaustão. O problema não está no fato de discutir a legalidade ou não do conceito que o Cobra e o CT já explicaram aqui no blog, porque encontrar brecha em regulamento é o que faz um carro ser vencedor. Mas criar regras novas no meio do jogo e ser incapaz de suportar decisões tomadas é lamentável.

Primeiro a FIA aceita, depois proibe. Depois abre uma exceção para os motores Renault no treino de sexta. Depois voltam atrás. Depois vem a Mercedes e pede outra exceção porque o motor dela tem uma condição específica. Depois proibem tudo. E depois falam que tudo pode voltar ao que era antes na Alemanha se as equipes concordarem. Que zona! Virou baderna, não tem outra explicação, estão atirando para todos os lados.

Tem muita coisa por trás disso, coisas que nem imagino e outras que posso saber mas talvez nem entenda. Existe um tal de "Extraordinary Technical Working Group" tratando do caso. Com certeza são pessoas capacitadas e inteligentes, que podem ter tido a melhor das intenções em suas decisões, mas pisaram feio na bola. É como se numa partida de futebol você tivesse um gol anulado porque estava impedido, no minuto seguinte o juiz acabasse com a regra do impedimento e na próxima jogada você levasse um gol que seria anulado na "antiga regra do impedimento".

Que a F-1 é negócio eu sei e convivo bem com essa situação. Mas se toda essa baderna tiver como fator motivacional apenas retardar em mais algumas corridas o quase definido título do Vettel, é uma vergonha sem precedentes. Uma vergonha muito maior do que jogo de equipe. Porque é basicamente pegar a regra técnica e desportiva da F-1 e assinar embaixo que ela não vale nada. O Charlie Whiting devia pedir uns conselhos para o Durval.

3 comentários:

  1. Basicamente, é assim: Se algum concorrente descobre a brecha na regra, e está andando na sua frente, você reclama. Mas internamente, seus engenheiros estão trabalhando num jeito de fazer igual. Se acharem a solução, implementam e fica tudo bem. É o caso dos dutos de ar da McLaren. Se você não consegue, vai na FIA e reclama, até conseguir mudar a regra. Sempre foi assim, e a Ferrari sempre foi mestra nisso.

    Eu lembro dos amortecedores de massa, mas também lembro da suspensão ativa, do Lotis turbina, é coisa antiga.

    O que é novo, e preocupante, é mudar de opinião várias vezes no final de semana, pura várzea. Mais um pouco, vira Stock car Brasil, onde em nome do espetáculo, já tivemos um comissário passando de carro em carro, com todos eles'JÁ NO GRID, informando mudança de regulamento.

    Por essas e outras, Bernie e a FIA estão matando a sua galinha de ovos de ouro, matando o interesse pela categoria. Eu mesmo sou um assim: até agora assisti somente ao GPs da China e Mônaco esta temporada. Só. E também não vou ver Silverstone. Pra ver várzea, assisto ao desafio ao Galo da Rede Record.

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  2. VARZEA TOTAL!!!!!

    É coleguinhas, essa lição todos nós aprendemos. Regra é lei e sem ela voltamos a idade da pedra e
    (ou a condição de palhaçada como na estoque).
    E a FIA sempre que faz cagada vem com essa solução maravilhosa de deixar as equipes deciderem. Isso sim é uma palhaçada, democracia em competição não dá certo. É como se o Juiz chamasse todos os réus de assasinato para discutir qual deve se 30 anos tá bom ou eles preferem um fim de semana no Guarujá...

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  3. Eu tô muito de saco cheio desse negócio aí, pra começar porque passei os últimos 4 meses ganhando cabelos brancos com esse sistema e aí de repente ele é banido (se isso é ruim para uma equipe grande, pra uma equipe pequena é muito pior porque os recursos são muito escassos e no final quase todos os recursos foram colocados em algo que vai ser banido).
    A primeira cagada foi o Charlie Whiting querer mexer com algo no meio do campeonato, e a segunda com algo que afeta os motores, os quais estão com o desenvolvimento congelado. A FIA tá muito fraca na F1...

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